quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Temor a Deus

Uma vez estava numa reunião de jovens em uma igreja e o assunto debatido era o homossexualismo. Um dos jovens presentes naquela reunião apontou que, nos últimos tempos, muitas pessoas tem desviado seus caminhos daquilo que Deus nos propôs por causa da falta de temor a Deus. O que eu entendi é que este temor foi no sentido de que "Sim, Deus é o criador todo poderoso, capaz de dar e tirar a vida, e ele não aprova alguns comportamentos que estão se popularizando ultimamente". Não tenho certeza se foi realmente isto que a pessoa quis dizer, mas esta declaração ficou na minha mente...

Fico me perguntando, será que falta temor a Deus ou amor a Deus? Vou tentar dar um exemplo: eu amo minha mulher e se ela me diz que é melhor eu não jogar a toalha molhada em cima da cama eu vou tentar seguir esta regra o máximo que eu puder, pois eu não quero fazer ela triste, nem aborrecê-la. Ela prefere que a toalha não fique em cima da cama porque isso vai acabar estragando o colchão e no final das contas ela vai ter que ir lá e fazer o que eu devia ter feito inicialmente, então eu evito quebrar a regra.

De certa forma, eu tenho receio da reação dela diante da minha falta de obediência, mas isto só ocorre porque eu me preocupo com ela e me importo com seus sentimentos. Eu a amo! Vou me esforçar para não gerar conflitos desnecessários e porque eu entendo os motivos e sentimentos dela com relação a este comportamento.

Do meu ponto de vista, esta é uma forma de temor, e é o temor que me faz não jogar a toalha em cima da cama. Mas este temor é um simples fruto do amor que eu sinto pela minha esposa. Não fosse o peso do amor, eu não daria a mínima pra esta regra que eu poderia muito bem julgar como estúpida e idiota.

Acredito que o mesmo deva ser verdadeiro em nosso relacionamento com Deus. Se o nosso temor é fruto apenas do receio de sermos jogados no inferno, então algo está errado!

Deus não nos mostrou certos caminhos por simples arbitrariedade! Eu não acredito que Deus seja arbitrário. Ele sabe o que é melhor pra gente. Deus não nos mostrou certos caminhos porque Ele precisa disto. Ele o fez para que pudessemos viver melhor, viver bem. Ele fez isto porque ele nos ama, e a melhor maneira de retribuirmos este amor é amando de volta, demonstrar o nosso amor através de ações que correspondam aos caminhos que Ele nos mostrou.

O temor aqui deve ser o de desagradar a Deus, não porque ao contrário ele vai nos jogar no inferno, mas porque Ele foi capaz de dar tudo por nós, seu único filho, e embora nós não sejamos capazes de igualar tamanho sacrifício, o mínimo que podemos fazer é corresponder a este amor com a nossa obediência. Ele aceita isto!

Nada disso faz sentido algum se a pessoa em questão não experimentou deste amor, se ela não entende a grandiosidade do sacrifício de Cristo na cruz. Como esperar que as pessoas tenham o temor que realmente importa? O temor que leva à salvação? Além disso, nós como igreja, o que estamos fazendo enquanto braços e pernas do corpo de Cristo para alcançar estas pessoas e demonstrar amor através de nossas ações?

Deus é amor e o amor dEle se materializa nas nossas ações uns para com os outros. O que temos feito com relação ao próximo? Como temos tratado as pessoas? A gente pode dizer muita coisa, a gente pode até espalhar outdoors defendendo a preservação da espécie humana. Nada disso vai falar mais alto que as nossas ações e atitudes com relação às pessoas. Que as nossas ações possam demonstrar o amor de Deus, o amor que faz valer a pena converter caminhos e idéias por um ideal maior.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Num condomínio

Acabo de mandar sair daqui
dois pobres. A mulher grávida, quase
parindo, e o marido eu nem vi
direito. Os retratos do atraso

desta nação. Graças a Deus subi
ao meu apartamento, este palazzo,
inteiro e vivo. Talvez fosse o caso
de dar algum a eles… Mas mereci

tudo que tenho! E agora, dissipar
meu patrimônio, construído em cima
do meu trabalho, entre os vagabundos?

Não, é só minha esta vista do mar.
É uma vergonha que ninguém reprima.
Cadê o governo? Não tem jeito este mundo.

*

Acabam de sair daqui três caras
que queriam saber onde encontrar
um tal de “Rei Nascido”. Olha, repara
muito bem, se eu me deixo enrolar.

Eu sei que só queriam me roubar.
Um rei recém nascido? É muita cara
de pau. Ainda por cima, tinham para
o tal rei ouro, incenso, e o quê? Ah,

sim, mirra. O que é mirra? Que conversa.
Disse pra eles: “Vão, vão procurar,
venham logo depois me dizer onde

ele está, quero honrá-lo, tenho pressa!”
Se for mesmo um bebê, melhor matar
agora, antes que cresça e entre no bonde.

*

Um anjo acaba de sair daqui.
Anunciava uma grande alegria
que era para todo o povo. Xi,
eu não gosto de povo. Dá azia

até lembrar do povo. Uma vez vi
uma velha sem dentes, na Bahia,
toda alegrona. Aê, Jesus. Podia
vir alegrar a mim, que sei que oui

é como os franceses dizem sim,
que tenho plano de saúde e moro
num condomínio ao nível da minha classe.

Mas um anjo pro povo, e com latim -
Gloria in excelsis Deo - incenso, ouro
e mirra! Não sei bem pra quê, mas passo.

*

Olha só quem chegou: Papai Noel!
Pela janela, pois a chaminé
ainda não ficou pronta. Olha o céu
como está estrelado! Quanta fé

nos une neste mesa! Ah, o meu
presente é uma beleza! O teu é
também! A ceia está servida. Quer
peito ou coxa? Ano que vem, eu

pretendo tantas coisas. Uma delas
é ser mais generoso. Não que agora
eu me sinta egoísta, estou bem, mas

nunca é demais, né? Acende aí as velas.
Menino, para de comer! Não ora
antes da ceia? É assim que se faz!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quando eu era adolescente, gostava de ir a um shopping próximo da escola e ficar no café, onde normalmente eu pedia um café simples que vinha com um par de biscoitos amanteigados. Eu ficava lá, sentado, escrevendo e desenhando, observando as pessoas que vão ao shopping fazer o que quer que as pessoas façam no shopping - provavelmente as mesmas coisas que eu faço, hoje que não há mais o café nem os biscoitos amanteigados naquele canto onde, se eu fumasse naquela época em que eu não me lembro de ser proibido fumar no shopping, eu comporia uma imagem demasiado cliché, exceto pelos meus 16 anos, inaparentes na minha altura e barba da época. Fui bem alimentado durante a infância e tenho a barba de muito boa qualidade, sempre tive, desde que ela começou a nascer, já uniforme e progressivamente enchendo o rosto até atingir o seu apogeu, que se mantém até hoje. Mas enfim, eu ia ao shopping, bebia café e isso provavelmente tinha seu charme, ou pelo menos o momento e lugar seriam bem apropriados para eu fazer o famoso sucesso entre as mulheres, o que de fato eu fazia, pois era mais divertido que apenas sentar e beber café. Uma vez uma moça aparentemente 5 anos mais velha que eu parou em frente ao balcão, e ficou ali fingindo não saber o que queria, porque na verdade ela estava obviamente interessada em mim, o que os fatos posteriormente comprovaram - acompanha. Ela estava lá, toda cheia de dúvida, e eu disse "não sabe o quer? prova isso" e ela pegou a minha xícara sem hesitar, provou e pediu o mesmo que eu pra moça do balcão, esta feinha que doía e muito antipática. Era café, e quando veio café simples ela disse que não, que estava errado, porque o meu era completamente diferente, etc e eu disse para ela sentar na mesa, peguei os biscoitinhos que vinham junto com o café e joguei dentro da xicara e perguntei se ela estava com a mão limpa. Ela disse que sim, então eu esperei dois minutos e a fiz misturar tudo com o dedo, o que ela achou ainda mais nojento que jogar biscoitos no café, mas por algum motivo fez tão direitinho quanto um adolescente com bastante habilidade, e chupou o dedo melhor do que eu o teria feito, não fosse um cavaleiro e soubesse onde aquele dedo havia estado antes de totalmente cercado de café e biscoitinhos amanteigados derretidos. Acontece que biscoitos amanteigados = açúcar + gordura + amido, quero dizer, o efeito dos biscoitos no café era o mesmo de adicionar creme, adoçá-lo um pouco mais e tornar o conjunto todo mais espesso, por causa do amido; se duvidar, pegue uma embalagem destas de sopa instantânea, e está lá o amido, o ingrediente mágico que transforma um caldo de temperos vagos em um grosso e confortável creme. O amido é o melhor amigo do fabricante de comida. O fato é que o café dela ficou idêntico ao meu, porque é isso mesmo que eu fazia, jogar os biscoitos dentro e mexer com os dedos de uma moça bonita ou com uma colher, na falta de moça bonita. Ela ficou lá, sentada ao meu lado, bebendo o café cremoso mais estranho da vida dela até então e, na falta de pão de queijo, me comendo com os olhos. Depois de uns 10 minutos, pegou uma caneta na bolsa, anotou o telefone no meu caderno, levantou e foi embora.

domingo, 11 de outubro de 2009

Eixo do mal

João Santos: me diga
porque é que em todo filme onde tem uma rainha mãe
ela age tão incestuosamente com os filhos?
esfregando os rostos deles em público, segurando a mão deles enquanto sentada no trono
olhando invejosamente pras suas pretendentes
não é possível que toda rainha agia tão freudeanamente em realidade
Igor Barbosa: Le reine Margot em mente?
João: sim, mas nesse caso agora o Joana D'Arc
mas põe nisso também toda -toda- adaptação de Hamlet que você já viu
inclusive aquela com a Glenn Close e o Mel Gibson, que interpretam mãe e filho
mas tem QUASE A MESMA IDADE.
Igor: hehehe
Glenn Close: Morre?
João: well, por mais feminista e maricas que o teatro moderno seja
precisaria ser MUITO pra ter um Hamlet onde Gertrude não morre no final, hehe
Igor: não, digo morre em carioquês
as in, pega-se?
cata-se?
dá-se uma pressão?
João: assim, ela não come o Hamlet en scene
mas há toda uma tensão oedipal lá, isso há
Igor: hehehe
claro
João: mas o Zefirelli é meio pervertido mesmo, então não sei se é culpa inteiramente do Shakespeare
Igor: mas diga você, hombre
que acha da véia? eu a acho pretty decent
João: a Glenn Close? Nos filmes velhos, sim
mas depois de ver ela como Cruella Deville
tentando fazer um casaco de dálmatas
não tenho mais tanta certeza
mas e a Milla Jovovich?
Igor: ah, eu não
dispensaria com gosto
muito magra, muito estranha, muito extraterrestre
João: gosto dela nesse filme
no mais recente dela, ela está muito suada e maníaca, matando zumbis
mas como Joana D'Arc ela está trés adorable.
Igor: lembro disso
mas é um péssimo filme, este Joana D´arc
me: ok, pode ser
Igor: a pouco tempo tivemos uma discussão no apostos, sobre o valor de beyoncé
João: meh
a Beyoncé eu dispensaria
Igor: foi o que disse
que ela não era um topping prize
João: mas talvez mais porque a música dela me irrita
e por associação, o próprio som da voz dela
outras cantoras nesta categoria: Lady Gaga, Christina Aguilera
Igor: don´t say the name
don´t say THE NAME
Lady Gaga é hermafrodita, entonces ok.
eu só temi que vc incluísse Britney no eixo do mal
João: mas veja, a Britney (embora também seja irritante) contribuiu com coisas não-ruins ao mundo
por mais que você odeie, não há como negar que Baby, One More Time e Toxic são músicas divertidas
pode chamar de derivativas, de artisticamente nulas, de estéreis, do que quiser
mas são divertidas.
Igor: Toxic nem é ruim
é uma boa música
toque uma música no piano para saber se é boa
João: aí está: meu padrão de bom ou ruim não é qualquer critério objetivo
é divertido ou chato
Até um filme existencial e deprimente pode ser divertido
da mesma forma em que um filme de terror é divertido
você se submete temporariamente ao hipotético para experimentar vicariamente os terrores alheios
Assim como eu posso me juntar à Ripley para me perguntar que aliens estão escondidos no escuro
eu posso me juntar ao Ingmar Berman para perguntar que Deus está escondido no escuro
mesmo já sabendo anteriormente a resposta das duas perguntas
Igor: filmes de terror não me hookeiam
mas até aí, filme nenhum me hookeia
e hombre, que fazes em casa num sábado à noite?
pq não saiu
para
(tam-tam-tam-tam-tam-tam-tam-tam-tam-tam-tam-tam)
B A D A L A R
?
João: hehehehe
preparando o projeto da dissertação
pra defender na qualificação e ser fuzilado por um esquadrão de doutores
o problema é que os autores que estou pesquisando- Dante e Lewis- são infinitamente maravilhosos
mas os teóricos que usarei para estudá-los são, well, chatos.
sim, Igor. Agora estou estudando aquela área que eu sempre zombei. Linguística Textual
no dia em que eu falar do Roland Barthes em termos de admiração e respeito, me dê um tiro na testa
e não enterre meu corpo em cemitério cristão
Igor: serei obrigado a isto, em honra de nossa amizade
por isso que eu sou um injenheiro sem diproma
João: hehehe
utilizando um bom e velho clichê dos filmes de zumbi
(que você, aparentemente, não gosta, seu chato que não gosta de filmes de horror)
"Se eu virar um deles, mate-me."
Igor: não gosto de filmes, em geral
João: rapaz, eu geralmente não tenho paciência de APENAS ver um filme. Então eu abro um joguinho no computador
ou converso no gtalk
enquanto assisto o filme simultaneamente
não sei porque, mas assim me sinto produtivo
se eu apenas assistir um filme, me sinto depois que perdi duas horas
mas se eu assistir um filme enquanto jogo tetris, bem, hoje eu consegui fazer duas tarefas no tempo de uma!
Igor: boa maneira de ser multitarefas
parece a minha
só bebo e fumo quando jogo e flerto
João: o que significa que o quarto do casal Barbosa
deve ter cheiro de tabaco e cerveja azeda
Igor: ah, não no quarto
mas a sala, sim
João: ou como vai a piada, um italiano diz ao outro
"Sabe quando é que eu gosto de fazer sexo?"
"Bem antes de acender um cigarro"
Igor: hehehehehe
poderiam ser gregos
rapaz, 64% dos homens gregos fumam
João: mas daí ficaria implícito que era sexo um com o outro
amor grego and all
engraçado como os títulos de reis
ás vezes não combinam com seus reinados
wikipedia dixit
"Charles VIII, called the Affable, French: l'Affable (30 June 1470 – 7 April 1498), was King of France from 1483 to his death."
"His invasion of Italy initiated the long series of Franco-Italian wars which characterized the first half of the 16th century."
seu título não pode ser "O afável" se sua maior fama é iniciar uma série de guerras continentais que marcaram um século.
Igor: hehe
eu não sou tão radical
ele podia ser gente boa na vida privada
João: pode ser
mas ás vezes a reputação política também é um indício de sua vida particular
é como diziam de Heródes, que era mais seguro ser seu porco que seu filho.
o que é insultoso de duas formas. Primeiro por deixar claro que ele matava seus filhos; e segundo por deixar implícito que ele comia porco. Mas que sua fome de porco ainda era menor que seus impulsos filicidas
Igor: considere isto
minha mulher deixou acabar o limão em casa
então tudo que eu tenho para misturar com cachaça e gelo é geléia de amora e de framboesa
e que por isso, em alguns minutos, estarei tomando uma CAIPIFRUTA
João: já vi beberem vodka com fanta uva
vodka com FANTA UVA
uma combinação que me parece bizarra como, sei lá
beber whiskey com ovomaltine
Igor: eu já bebi isso
na verdade, com conhaque
João: WHISKEY COM OVOMALTINE?
Igor: nescau, conhaque e coca-cola
João: hmph.
Igor: nescau com coca-cola é vaca preta
com conhaque, é vaca queimada
Igor: então, decidi provar a vaca salpicada. ficou ótimo
João: vaca preta não era coca cola com sorvete?
aqui no RJ, é com nescau
coca+sorvete = ice cream soda, oras
João: a verdade é que a única vaca que presta mesmo
é a vaca que faz mu
Igor: essa é ótima
João: e que podemos comer em filés, assados, na brasa
ou com suas adoráveis costelas atoladas em mandioca
i.e., vaca atolada, o único prato de bife que eu lembre cujo nome homenageie este admirável animal
Igor: e isto é realmente uma vergonha
a vaca sim, é a melhor amiga do home
João: mas não é?
ela nos dá sua carne
o leite
o queijo
o chocolate, o creme, o iogurte, a manteiga
ela nos dá seu couro para fazermos jaquetas
e os chifres de seu esposo nos dão o símbolo perfeito para os maridos de todas as vaquinhas que perambulam por aí
é um animal que nos deu tanto, e pediu tão pouco em retorno
e ainda existem ecologistas tiranos que ousam reclamar de sua flatulência!
Igor: verdade
cachaça + geléias: O.K.
João: argh
estou aqui já desde 7 horas da noite
e só tenho duas páginas e meia pra mostrar
mas é porque tive que ler uns dez artigos
e vasculhar por entre meus livros
pra explicar suficientemente bem o que é dialógica e o que é intertextualidade
Igor: g-zuis
João: quando o assunto for Lewis (que ainda não te perdoei por desprezar, cazzo) será fácil
Igor: não desprezo Lewis
só que ele não é nenhum GKC
João: você disse que "C.S. Lewis até que é bom"
o que é coisa que se diga sobre uma Britney Spears da vida, hehehe
Igor: nunca diria que Britney "até que é boa"
Britney é uma deusa
João: hehehehehe
seu desgraçado
Igor: perdoe-me: cachaça com geléia
mas Lewis é ótimo, então
e GKC é apenas inigualável
e Britney é Astartéia.

sábado, 3 de outubro de 2009

Uma pergunta

Passeando de canal a canal, peguei um pedaço de um programa chamado "Lazy Town" no Discovery Kids.
A minha pergunta é: Tia Morrissey, o que aconteceu com você???

YOU ARE THE QUARRY.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Os Horrores da Cultura Pentecostal: Pregadores Mirins

O pastor Ciro Zibordi postou em seu blog que os pais de pregadores mirins devem permitir que suas crianças tenham uma vida normal; isto é, que crianças pregadoras devem ter tempo para serem crianças, não devem ser arrastadas por um circuito de shows/pregações em igrejas. Mas que é perfeitamente ok colocar uma criança no púlpito.

Eu discordo. Esta mania perversa de treinar crianças pregadoras não apenas traumatiza as crianças¹, mas prejudica a própria igreja ao fazer uma criança assumir a maior responsabilidade de todas no culto evangélico: expor a Palavra de Deus. É uma banalização horripilante daquilo que nosso culto tem mais precioso.

Mas como uma afirmação tão auto-evidente e óbvia como esta ainda será disputada por algumas pessoas, aí vão quatro motivos pelos quais é uma péssima idéia colocar crianças no púlpito.

1) A pregação requer exegese do texto bíblico. Pregar não significa gritar palavras de ordem para uma multidão. Pregar não significa esbravejar contra a igreja por ela não ser pentecostal o suficiente², ou santa o suficiente. Pregar é expor a palavra de Deus, é pegar um texto bíblico e tentar trazer o significado dele para seus ouvintes. Exegese requer paciência, disciplina, leitura cuidadosa dos textos. Requer atenção para o contexto histórico e cultural de cada passagem, atenção para os temas teológicos envolvidos, atenção para as formas em que cada texto é usado em outras passagens. Requer atenção para possíveis erros de interpretação, atenção para as formas em que cada texto tem sido interpretado em quase vinte séculos de tradição cristã. É uma atividade demorada, complexa, e intelectualmente exigente. Existem muitos adultos (e adultos piedosos, santos, e inteligentes) que não possuem o cuidado, a paciência ou a capacidade que a exegese requer; é impossível esperar isto de uma criança. Uma criança pode repetir uma história bíblica; ela pode gritar no microfone as ordens que Paulo dá em suas epístolas; mas ela não tem a capacidade intelectual de extrair do próprio texto sua mensagem, e de relacionar a mensagem deste texto com a totalidade da doutrina cristã e com a vida dos ouvintes.

2) A pregação requer a organização das idéias do texto num discurso inteligível e coerente. Proponho um experimento aos defensores dos pregadores mirins: peguem uma criança de oito anos, e façam-a ler algum texto da antiguidade pagã; pode ser o Épico de Gilgamesh ou a Ilíada, ou qualquer outro. Agora peça-a para instruir um grupo de adultos (que todos leram estes textos antigos há anos, alguns já mais de vinte vezes) a seu respeito. Você acha que esta criança faria um trabalho minimamente competente em expor o significado deste texto pagão? Então como você espera que ela faça o mesmo com o texto que é, em nossa fé, a revelação do próprio Deus? Mesmo se admitirmos que ela tem a capacidade de entender plenamente o que foi escrito pelos autores bíblicos (e eu já disputei esta idéia no ponto anterior), você realmente acha que a criança tem capacidade para organizar as idéias do texto, e educar um grupo de adultos quanto ao seu significado e aplicação para hoje? Você já aprendeu algo de um sermão pregado por uma criança? E olhe que na maioria dos casos a organização das idéias do texto para o formato do sermão nem é feita pela criança, e sim seus pais. Os pais da criança infeliz preparam um sermão, e então fazem a criança repetí-lo. Isto não é pregação. Se isto for pregação, então um papagaio treinado para repetir as mensagens de Spurgeon³ também é um pregador. A acusação do Pr. Zibordi, que existem algumas crianças que são somente pequenos animadores de auditório, ignora o problema real: que toda criança pregadora é, de uma forma ou outra, uma pequena animadora de auditório. Algumas animam o auditório gritando espalhafatosamente; outras pela repetição mecânica de um sermão ensaiado com os pais; mas nenhuma criança realmente pode pregar o evangelho.

3) A pregação requer experiência de vida. Eis algo tão óbvio que tenho vergonha até de escrevê-lo: a aplicação de um texto para as realidades e necessidades da congregação requer uma compreensão básica das realidades e necessidades da congregação! Uma vez que o texto bíblico foi compreendido, e sua mensagem foi comunicada, como uma criança de nove anos poderia fazer esta mensagem aplicável aos seus ouvintes? Como pregar uma palavra de consolo quando a sua maior tristeza na vida foi ser proibida de ver o show dos Jonas Brothers? Como pregar sobre a alegria no Senhor quando sua única compreensão de alegria é em termos de brinquedos e doces? Uma criança não entende (ainda) as dificuldades diárias que 99% das pessoas experimentam. Uma criança nunca sentiu dúvida em seu coração; nunca soluçou uma oração desesperada por uma cura que nunca veio; nunca maravilhou-se da graça que perdoa pecados porque ela própria não entende o quanto é pecadora, e o quão desesperadamente necessitamos da misericórdia de Deus. Não estou dizendo que apenas velhinhos que já provaram de tudo da vida podem pregar; não estou dizendo que homens solteiros não podem pregar a homens casados, ou que é proibido pregar em funerais até que alguém de sua família morra. Mas vamos todos admitir que a autoridade moral de um pregador é oca até que ele tenha um reservatório de experiências pessoais ao qual ele pode voltar para extrair uma aplicação ao texto. Este é um motivo pelo qual pregadores mirins são ridiculamente impiedosos: gritam com os irmãos; exigem que as pessoas dêem glória a Deus por alguma promessa vazia, conjurada entre um segundo e outro de uma passagem mal interpretada; urram que a vida cristã consiste apenas de vitórias; ridicularizam os fracos, desafiam impudentemente os calados. É muito fácil exultar na idéia de que a vida do crente é uma de ininterruptas conquistas espirituais, milagres e bençãos quando só se provou uma única gota (se tanto) do cálice de tentações, decepções e amarguras que cada um de nós precisa tomar até o fim.

4) A pregação requer uma vida com o Espírito Santo. Não estou falando de dons espirituais ou de fenômenos pentecostais; estou falando de santidade, de vencer diariamente a tentação diária, de amar a Deus mais do que a si mesmo. Estou falando de maturidade espiritual, de intimidade com o Senhor, de uma vida compromissada com Jesus Cristo e sua Igreja. O pregador não é apenas um expositor da Palavra; ele é um homem santo, um servo do Senhor, um emissário de Deus. O púlpito não é, e não deveria ser, um espaço democrático, mas o lugar onde uma pessoa chamada por Deus desempenha uma função sagrada. E isto requer não apenas o preparo e a experiência de vida que mencionei acima, mas experiências com Deus- de sua misericórdia, de seu poder salvador, da beleza do Senhor- que vão além de orar ao papai do céu toda noite. Não estou dizendo que crianças não podem amar a Deus; mas maturidade espiritual requer também maturidade intelectual e emocional. Em I Co. 3, Paulo criticou os coríntios por serem criancinhas em Cristo; o que ele diria se soubesse que fizemos de criancinhas de verdade os pregadores daquilo que ele, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu? Quando se tornou permissível que os membros mais imaturos da igreja assumissem a autoridade do púlpito?
______________________________

¹ E arruina a fé delas no processo. Ou ninguém lembra de
Marjoe Gortner?
² Uma das marcas do pregador canalha: exigir que seu público a aplauda e dê glória a Deus pelo que ele acabou de dizer. E minha pentecostalidade é medida pela quantidade de améns e aleluias que eu grito durante uma pregação?
³ É um papagaio reformado.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Agostinho: Mateus 5:16

Let your light, says He, so shine before men, that they may see your good works, and glorify your Father which is in heaven. If He had merely said, Let your light so shine before men, that they may see your good works, He would seem to have fixed an end in the praises of men, which hypocrites seek, and those who canvass for honours and covet glory of the emptiest kind. Against such parties it is said, If I yet pleased men, I should not be the servant of Christ; and, by the prophet, They who please men are put to shame, because God has despised them; and again, God has broken the bones of those who please men; and again the apostle, Let us not be desirous of vainglory; and still another time, But let every man prove his own work, and then shall he have rejoicing in himself alone, and not in another. Hence our Lord has not said merely, that they may see your good works, but has added, and glorify your Father who is in heaven: so that the mere fact that a man by means of good works pleases men, does not there set it up as an end that he should please men; but let him subordinate this to the praise of God, and for this reason please men, that God may be glorified in him. For this is expedient for them who offer praise, that they should honour, not man, but God; as our Lord showed in the case of the man who was carried, where, on the paralytic being healed, the multitude, marvelling at His powers, as it is written in the Gospel, feared and glorified God, which had given such power unto men. And His imitator, the Apostle Paul, says, But they had heard only, that he which persecuted us in times past now preaches the faith which once he destroyed; and they glorified God in me.