quinta-feira, 31 de julho de 2008

Continuo aqui

Meu confuso, longo e animado texto sobre as relações entre o cristianismo e a política, que comecei aqui.

Terminava recomendando ao amigo Cristão hipotético que pense em votar nulo nestas eleições. Mantenho o conselho; já verá por quê.

Entre fazer o bem e evitar o mal, escolha o mais garantido. A certeza de praticar o bem é ótima, mas evitar o mal, se oferecer mais chances de sucesso, também não é ruim. Tudo depende das certezas que se tem; e muitas vezes nossas certezas dependem dos nossos ceticismos.

Dias atrás o João se surpreendeu de que eu acredite no Judeu Errante. Eu, de fato, acredito literalmente que há um Judeu andando pelo mundo desde que Jesus o condenou a isso. Se não houver, acredito que eu entendi mal. Mas não acredito que Jesus teria errado. Sua maldição aconteceu e caiu sobre alguém.

Mas o João acredita em algo que eu considero muito mais inacreditável. Ele acredita no dinheiro como fim único das grandes corporações, dos grupos que controlam não só nossa economia, mas também nossa política e nossa cultura. Assim, a cultura e a política estariam hoje submetidas ao grande capital, e por isso seriam malévolas.

Isso faria sentido, diríamos, se viesse de um comunista. A assimilação total de nossas vidas (quem nega que a humanidade está prostituída e escravizada?) visando a uma enorme acumulação financeira nas mãos de uma elite é um excelente ponto de partida para prometer ao povo a libertação pela igualdade econômica. E sabemos onde isso vai dar.

E é, também, uma boa prova de nossa corrupção geral. É mais fácil, e mais garantido, olhar um efeito e apontar sua causa do que observar um evento e deduzir suas conseqüências. Profecias, se têm base natural, costumam falhar. Marx falhou.

Mas não estamos aqui para ser anti-comunistas. O fato concreto é que há uma elite que controla as vidas das pessoas. E isto dentro da sociedade que se pretendeu liberal, isto é, que não queria ser controlada pelo governo. Hoje somos livres de impostos em muitos países, mas a cultura em que criamos nossos filhos está carregada de uma carga opressora tão intensa, que pouco adianta pretender fazer, de nossos filhos, filhos nossos. Eles serão filhos de seu tempo, a menos que vivamos a paternidade e a maternidade em grau esforçado, tentando o heróico.

E isto é só um problema, óbvio para mim, que sou pai. Há muitos outros: As concessões necessárias para ter uma vida acadêmica e para ter um emprego; para encontrar um cônjuge espiritualmente vivo e ativo; para fazer bons amigos.

Tudo estaria muito bem, e o liberal estaria certo, se fosse lucrativo manter os povos assim. Mas não é. Não é só no filho, na esposa e no amigo que somos amputados: É no padeiro, no prefeito e no controlador de vôo. O progresso quase que só nos trouxe atraso. Temos TV a cabo, ensinando libertinagem às crianças, rebeldia aos adolescentes e pornografia aos adultos. Temos internet para mais eficiente distribuição destes mesmos frutos podres. Temos celular para maledicência e mentira mais eficiente.

Morremos de medo de se acabarem a água, o petróleo e a comida, e não lembramos que precisamos de gente que nos tirem a água dos poços, o petróleo dos mares – ou inverta-se – e a comida da terra. Mas hoje, com controle populacional e egoísmo institucionalizado, não há lucro financeiro vindo disso. Não foram só o filho, o marido e a amiga que pioraram: Foi o pão, a casa e o asfalto da rua.

Se alguém levantar aqui a mão para dizer que estes maus efeitos não são sinal de crise econômica, mas de excessiva concentração, eu respondo que, primeiro, o capitalismo sempre quis o dinheiro circulando, e que portanto não é bem uma sociedade liberal aquela em que tais coisas acontecem; e depois, que o próprio liberalismo, ao cortar as amarras entre o trabalho e a moral, abriu a porta que permite o enriquecimento exagerado. O liberalismo preparou a tirania econômica.

Que o comunismo e o capitalismo, bem como o estatismo e o liberalismo, são uma e a mesma coisa com camisas diferentes, basta estudar história para saber. Suas semelhanças ficam fáceis de observar no parágrafo acima. É esta mesma coisa, e suas inúmeras camisas, que pretendo expor e combater aqui.

Peço que o leitor observe o seguinte fato: O Capitalismo, enquanto maneira de desempenhar as atividades produtoras, extrativas e beneficiadoras de maneira a permitir máximo lucro, e o Estatismo, enquanto maneira de governar através de extrema intervenção do governo na vida econômica do país, isto é, nas mesmas atividades mencionadas, têm seu primeiro surto quase juntos. A avareza segue à gula muito de perto.

E o que causa estes dois eventos foi um silêncio. Um estranho silêncio, pois alguém ainda falava. Mas ninguém ouvia, e ninguém lia seus lábios: Estavam todos muito ocupados lendo entranhas de cadáveres e buscando a pedra filosofal. Um silêncio de uma voz que diria, e dizia e diz ainda que é feio ser guloso, e se empanturrar; e empanturrado, é feiíssimo ser avarento, e reter. Mas quem dá ouvido a esta voz?

Quando achamos normal sermos legislados e julgados por gulosos e avarentos, quando fazemos manifestações e comícios pelo direito de dar a estes gulos e avarentos o poder com o qual se alimentam e nos fazem morrer de fome – poderemos reclamar, depois, de sua preguiça, de sua ira e de toda a sua Corrupção?

Por isso, eu lhe exorto, leitor amigo – na dúvida (e você provavelmente tem do que duvidar), vote nulo.

(continua)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Contradições

"Permaneceremos" pergunta São Paulo, "no pecado para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum!" (Rom. 6:1) O motivo é óbvio. A graça abunda apenas quando há arrependimento genuíno, e como o demônio lógico tão corretamente observa (Inferno, xxvii, 118-120), não podemos simultaneamente praticar o pecado e o arrependimento, já que isto envolve uma contradição em termos.

A propósito, uma falácia similar persegue toda proposta engenhosa de "testar a eficácia da oração" ao (por exemplo) orar por certos pacientes em um hospital e deixar os outros pacientes sem oração, e ver qual dos grupos se recupera. Orações feitas neste espírito não são orações de modo algum, e é necessária uma ingenuidade singular para imaginar que a Onisciência Divina seria tão facilmente enganada.

-- Dorothy L. Sayers, em seu comentário do Purgatorio.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Começo aqui

um longo, épico e, assim espero, divertidíssimo texto sobre as relações entre o Cristianismo e a Política.

Para ser bem longo, vou abordar o tema de dois pontos de vista: O filosófico e o histórico. Peço-vos boa vontade. Anos de política idiota, perversa e demente fizeram do Brasil um lugar lotado de ignorantes esperançosos seduzíveis e cínicos “esclarecidos”. Uma visão positiva, isenta e comprometida com o acréscimo de conhecimento da verdade é hoje em dia algo muito raro; é o que proponho, rogando a Deus que me ajude a conseguir expor o que por mim mesmo não poderia.

Começando pelo começo, vamos definir cristianismo como o conjunto de crenças e comportamentos que assume, ou deveria assumir, o sujeito que abraça a fé cristã. Esta definição tem sua utilidade para nosso propósito pois define o cristianismo pelo seu caráter social, independente da fé de cada indivíduo – que se omito não é por querer negar, é claro.

E vamos tomar como definição clássica de política que esta seja a maneira pela qual os homens convivem em sociedade e organizam esta convivência para o bem comum.
Entre duas realizações humanas (e aqui chamo a religião de realização num sentido diverso de criação, se é que você já não entendeu; a religião foi revelada por Deus, mas é praticada, também, pelo homem), inscritas no tempo, pode haver exclusão, coordenação ou subordinação.

Não me parece necessário explicar que entre a religião cristã e a vida política não há exclusão. O Cristianismo bíblico oferece as provas: Cristo diante de Pilatos disse que “Não terias nenhum poder sobre mim se este não te viesse do Alto”. Já São Paulo mandava na epístola aos romanos que fôssemos submissos às autoridades constituídas, pois nenhuma há que não tenha sido instituída por Deus. Disso tiramos uma certeza: Não há cristianismo anárquico.

Pode, portanto, haver coordenação ou subordinação entre a vida política e a cristã. Sabemos, também, que só pode haver coordenação de meios quando há igualdade de fins; e que a finalidade da vida cristã obter para as almas a boa vida eterna, enquanto a da vida política é obter para os indivíduos a boa vida terrena. Portanto, não se podem coordenar vida política e cristã, sendo necessário optar por um dos fins como superior (não ficando o outro desprezado) e portanto, um dos meios como ordenador, e o outro como subordinado.

Aqui poderíamos partir do princípio que, neste blog cristão, todos os leitores já fizeram a opção pela vida espiritual como mais importante que a corporal, mas não vamos. Primeiro porque não é tanto para convertidos que pregamos aqui, mas para aqueles que precisam se converter; e depois porque mesmo entre muitos cristãos prevalece a impressão de que as duas vidas não precisam superpor-se, convivendo lado a lado sem muita interação.

E isto é falso. Falso porque, como já visto, não há coordenação e paralelismo possível entre a vida política e a religiosa; e também porque pela própria natureza das duas atividades haverá, em toda a vida, ocasiões em que a política e a religião têm que ser praticadas simultaneamente.

Resta, então, a hipótese de que a vida religiosa deve ordenar e inspirar a vida política. Para isto, contribuem as seguintes analogias:

1) Em ambas há lei. Porém, a lei política na melhor das hipóteses será oriunda da lei natural, interpretada pelos homens à luz da virtude da justiça; enquanto a lei religiosa será dada por Deus, e portanto inacessível por si aos homens, sendo assim mais preciosa e digna de guarda.

2) Em ambas há hierarquia. Porém, a hierarquia política é técnica e funcional: O indivíduo e sua função se separam tanto quanto a sociedade não seja tirânica, e espere somente o exercício das funções administrativas, legisladoras e disciplinadoras dos ocupantes de cargos públicos, sem que com isso eles percam as atribuições de cidadão. Na hierarquia religiosa, no entanto, ocorre o contrário: Qualquer mudança é mudança de qualidade, e pega-se ao que o indivíduo tem de mais íntimo, sem que se creia possível desfazer esta mudança sem desfazer o próprio indivíduo. A hierarquia política, portanto, caracteriza-se por uma união circunstancial entre indivíduo e cargo; a hierarquia religiosa por uma unidade perenal entre alma e vocação.

3) Em ambas há convivência e troca de bens. No entanto, a vida política progride na medida em que os cidadãos fazem circular os bens materiais que garantem a segurança e o progresso da vida civil, enquanto na vida religiosa os bens que se trocam são oriundos de Deus, e por isso chamados dons. Mas uma diferença é essencial: Na cidade, aquele de quem muito se toma e a quem pouco se dá, por uma injustiça da sociedade, é o lado derrotado de uma sociedade competitiva; na Igreja, aquele que muito dá e pouco toma é o vencedor, ou mais que isso, pois é um vencedor que não deixa vencidos. Por isso se vê que a frutificação dos bens é mais eficiente no solo de Deus que no solo dos homens.

Com isso temos como patente que a política deve se pautar pela religião, e esta deve ser o princípio ordenador da política.

E isso nos traz uma questão atual: Como fazer boa política, isto é, política subordinada ao cristianismo, num sistema que já recebemos defeituoso, para usar uma palavra suave?

Confesso que não sei bem. O que tenho como certo é que, na impossibilidade de agir bem, deve-se no mínimo tentar não agir mal. Por isso, o mais recomendado para os cristãos me parece ser, neste momento, começar a pensar em votar nulo.

(continua)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O problema da tipologia

Eu tendo a fugir de interpretações tipológicas de quase toda passagem bíblica, o que ás vezes me rende protestos de alunos e amigos. "Como você pode dizer que (insira nome de personagem vetero-testamentário) não é um tipo de Cristo?" "Mas é claro que (insira figura vetero-testamentária) representa a Igreja!" "Cuidado, a letra mata, mas o espírito vivifica!" Após uma conversa com o Igor, decidi explicar meus motivos para rejeitar este tipo de interpretação.

A tipologia, na teologia, é uma forma de interpretar certas passagens do Antigo Testamento como alusões proféticas a figuras e doutrinas do Novo Testamento. Assim, certos personagens com características que lembram a Jesus são considerados, por alguns, como tipos de Cristo. A ovelha sacrificial é um tipo de Cristo, Jonas, que passou três dias na barriga de um peixe (a barriga do peixe, presumivelmente, sendo um tipo de inferno) é um tipo de Cristo, Josué, por ter o mesmo nome e liderar uma conquista, seria um tipo de Cristo. Outra categoria popular de tipos seria tipos da Igreja; a Sulamita de Cantares é um tipo da Igreja, a arca de Noé é um tipo de Igreja, e Israel é o tipo de Igreja par excellence. Tipos são fáceis de achar no Antigo Testamento. De fato, é praticamente impossível encontrar um personagem sequer de todo o Antigo Testamento que não pode ser visto como tipo de algum elemento da teologia cristã. E é isto que acaba gerando problemas.

Não há como negar, está certo, que os próprios autores néo-testamentários se serviram de tipos; o autor de Hebreus evoca a figura de Melquisedeque para compará-lo a Cristo, Paulo aponta para a Igreja como sendo Isaque, os herdeiros legítimos de Abraão, e o próprio Cristo aponta para a serpente que Moisés ergueu no deserto como sinal passado de sua crucificação. E se eles usaram tipos, não ouso dizer que tipos não existem. Podemos, e devemos, usar os tipos que eles nos deixaram, e estudar os mistérios que eles nos revelaram. Mas não podemos- não ousamos- descobrir tipos no Antigo Testamento se não há menção deles no Novo. Se o fizermos, corremos o risco sério e perigoso de inserirmos nosso significado, nossa leitura, nossas opiniões, sobre um texto que tem nada a ver com o que desejamos ler nele. Sacrificamos a palavra viva e real do Antigo Testamento em favor do catálogo particular de imagens e alusões que desejamos ver estampado sobre suas páginas.

A tipologia é uma caixa de Pandora. Uma vez que você comece a interpretar a Bíblia desta forma, é praticamente impossível traçar um limite de onde parar, e você passa a enxergar Jesus atrás de todo arbusto. Quem começa a ver Jesus em um tipo fica sem recurso, sem defesa, para protestar quando outros vêem Jesus em outro tipo; e logo o Antigo Testamento deixa de existir como registro da história do povo de Deus, e passa a ser um longo prelúdio ao Novo Testamento. O Antigo Testamento deixa de existir em seu próprio direito, e vira apenas um índice ilustrativo dos personagens do Novo Testamento. Todo o vasto épico de Israel se esvai, perde seu poder e seu significado, e perde sua significância histórica, visto que o que antes era tido como história sagrada passa a ser lido como profecia. E profetas, como até Nosso Senhor o confessou, são os mais mal-compreendidos e mal-aceitos dos homens.

O problema com a tipologia é que todos podem enxergar diferentes tipos em diferentes personagens bíblicos. Toda figura do Antigo Testamento pode virar um tipo de Cristo, até mesmo o nome mais obscuro ou o canalha mais baixo. Faraó é um tipo de Cristo, pois os monumentos com sua face cobrem toda a terra. Labão é um tipo de Cristo, pois o povo de Deus o serve. Pelegue é um tipo de Cristo, pois em seus dias a terra foi dividida, e Cristo vem não para trazer paz, mas para dividir com uma espada. Saul é um tipo de Cristo, pois Cristo é um rei forte e poderoso, o primeiro de seu povo. Sansão é um tipo de Cristo, porque os filisteus são- é claro- um tipo de Satanás, e Cristo derrota Satanás. Dalila é um tipo de Cristo, pois seduz até aos mais fortes, e enfraquece os soberbos. Jezabel é um tipo de Cristo, pois é reconhecida pelas palmas das mãos. Eglom é um tipo de Cristo, porque nele há abundância e fartura. Balaão é um tipo de Cristo, porque andou montado sobre uma jumenta. E a jumenta de Balaão, óbviamente, é um tipo da Igreja, porque Cristo está sobre ela.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Eu acho que concordamos

A propósito do último post escrito pelo João, digo o seguinte. O problema do brasileiro — para além do fato de ele simplesmente ser brasileiro, e não inglês, por exemplo — é depositar todas as esperanças nas “autoridades”. Para todos os problemas que existem no mundo, o brasileiro espera uma “providência das autoridades”. Para acabar com a obesidade, ele espera do governo uma campanha contra as lanchonetes e uma outra contra os hambúrgueres; para acabar com o câncer de pulmão, uma campanha federal contra o cigarro e outra contra os comerciais de cowboys fumantes; para acabar com acidentes causados por motoristas embriagados, campanhas nacionais contra o álcool e ressalvas de moderação em cada propaganda; contra a violência, esperneiam pela atuação, mais uma vez, dela, a “autoridade competente” — a polícia, a parte uniformizada do crime organizado, só que sem organização; e o mesmo com o que se passa na TV, com a educação, e com tudo o mais. E quando nossos políticos finalmente aparecem com aqueles brilhantes projetos de lei, proibindo isso ou aquilo, o brasileiro, que tanto exigiu as tais medidas e etc., faz bico. De qualquer forma, e para todos os efeitos, deixo claro que, embora eu mesmo não tenha a mínima intenção de fazer algo a fim de mudar o que quer que seja (além de sentar-me diante de meu computador, escrever um texto entre indignado e melancólico, e publicá-lo em meu blog sem leitores), deixo claro que essa história de só ficar pelos cantos, reivindicando a ação dos governos, não pode acabar bem. É que cedo ou tarde os governos agem — para prejuízo nosso. Mas eu nunca sei do que falo. Ignorem-me.

Lei Seca

No qual eu falo sobre um assunto que não interessa mais ninguém, e do qual ninguém quer saber minha opinião.

* Qual é minha opinião sobre a lei seca? Bem, sobre a lei seca só posso dizer, com a complacência maligna de um crente que não tem costume de beber, e tem sua vida social em nada afetada pela lei, exceto a probabilidade reduzida de ser atropelado numa esquina: Hahahahahaha.

* Bombom de licor. Já ouvi quatro pessoas reclamando que agora não poderão mais comer bombom de licor antes de dirigir. Minha pergunta é: de onde surgiu este repentino e insaciável apetite por bombons de licor? Antes desta lei passar vocês entupiam a boca de bombons? Entravam na doceria e pediam um para a viagem? Comiam fora e, para a sobremesa, pediam para ver o cardápio de bombons? Pode ser falta de observação minha, mas eu nunca tinha notado a importância do bombom de licor na experiência gastronômica- aliás, na vida alegre e normal- do brasileiro.

* A lei não é um exemplo de socialismo brasileiro, de comunismo, de qualquer coisa do gênero. Se você não achava "socialismo tupiniquim" o fato de existirem leis proibindo a direção com certa porcentagem de alcool no organismo, não pode pular agora e dizer que é sinal do comunismo. Se a sociedade pode proibir que um homem dirija após tomar uma garrafa inteira de whiskey, ela pode proibir que um homem dirija após beber um dedal de cerveja. Se você já concedeu ao governo o poder de dizer quanto um homem pode beber antes de dirigir, não vale reclamar agora quando o governo diz "Nada." E parem de falar como se a lei violasse seus direitos humanos. Dirigir uma máquina de metal que pode esmagar pessoas a 150 km por hora não é um direito humano inalienável, é um privilégio que precisa ser exercido com cuidado.

* Digo tudo isto, é claro, com a serenidade cruel de quem não sai para beber, mas já esteve em acidentes onde o outro motorista estava tropeçando de bêbado. É horrível concordar com o governo, mas ás vezes é inevitável.

domingo, 20 de julho de 2008

Satiagraha

(Eles começaram a falar daquela operação contra corrupção. Cale a boca e espere o assunto passar.)

(Satiagraha. Ou é Satyagraha? Eu achava que era com y, mas as pessoas tem mania de inserir ipsilones em lugares errados. Lembra do Luys? Que devia ser Luís como uma pessoa feliz e normal, mas teve seu destino selado no cartório por seus pais cruéis? Pois é. Satiagraha. É em sânscrito ou em tupi? Acho que sânscrito. Engraçado como quando eu era criança, os professores e os livros de mitologia viviam dizendo que os romanos roubaram seus deuses dos gregos, que Júpiter era uma cópia de Zeus, que Vênus era uma Afrodite paraguaia, quando na realidade ambos vieram de Dyaos-Piter, o deus do céu de qualquer que seja a região da Índia onde ele era adorado. Os gregos pegaram o Dyaos e fizeram em Zeus. Os romanos pegaram o nome inteiro- Júpiter. Não foi uma questão de um roubar de outro; ambos roubaram dos indianos.)

(Naji Nahas = nome perfeito para super-vilão. Ele poderia ser um caudilho oriental, trajando um kimono de seda e uma coroa de jade, e dez anéis nos dedos- ah, dez anéis, vai ser uma cópia vagabunda do Mandarin. Mas o Mandarin já é uma cópia sem vergonha do Fu Manchu, não? Não, já sei. Naji Nahas vai ser um rajah indiano, magro e alto e barbudo, e vai ter o poder de controlar cobras- de controlar najas, haha, e vai ter duas najas principais, Nag e Nagaina, numa alusão óbvia e homenagem a Rikki Tikki Tavi. Naji Nahas, Senhor de Satiagraha. Aliás, o que significa Satiagraha?)

(Eu deveria ter prestado atenção ao começo da conversa, ela já está terminando de explicar a situação toda. Daniel Dantas é o maior corrupto do Brasil? Opa, maior corruptor do Brasil? Meu Deus, um corruptor. Sempre ouvi falar de políticos corruptos, mas achava que eles tinham se corrompido sozinhos, que a palavra denotava apenas uma podridão política e moral, não um estado passivo que resultou em sua corrupção por um corruptor. O que acontece? O político está voltando para casa sozinho, tarde da noite, quando uma figura escura surge de um beco vazio segurando uma pasta de couro e um contrato de venda de alma? Ou quem sabe o corruptor é como um galanteador, leva os deputados para jantar em restaurantes caros, tenta colocar sua mão sobre a mão deles e sussurra em seus ouvidos, com o calor e a urgência de um namorado, cifras proibidas e riscos mínimos. Vamos, ninguém precisa saber. Você sabe que quer isto tanto quanto eu...)

(Ah, tem a ver com o mensalão? Não, com telecomunicações. Lavagem de dinheiro? Agora eles também não sabem, ha ha. Está na hora de eu dizer algo para que meu silêncio não fique conspícuo.)

"Eu também não faço idéia, mas você sabe; conhecendo esse povo, pode ser tudo isto e mais ainda. Aliás, o que vocês vão fazer essa semana?"

(Droga, não funcionou, eles ainda querem falar sobre isso. Sou o único nessa faculdade que não entende do que se trata essa situação toda? Acho que vou procurar na wikipédia mais tarde. Eu deveria ter acompanhado no jornal. Eu sei que o Duanne diria isto. Ele diria "Ah ha, eu não disse que o jornal era importante?" E eu não tenho desculpa. O jornal chega de manhã todo dia em casa, custaria nada ler algo durante o café da manhã. Mas eu não tomo café da manhã. Aliás, o que estou dizendo, estamos tomando café da manhã agora. Não tomo café da manhã em casa. Mas não tem tempo, e nunca tem nada pronto pra comer. E quando tem, é torrada. Um homem não pode começar seu dia com apenas uma fatia de torrada. Melhor só comer no almoço mesmo, ou comer um salgadinho na faculdade. Lá se vai meu salário, perdido numa sequência infinita de cafés com leite e coxinhas.)

(Caféééé com leite, o néctar dos deuses. Eu nunca faço café com leite em casa, mas por algum motivo café com leite se torna irresistível para mim quando estou fora. E se um dia eu fizer café usando leite ao invés de água? Eu teria que lavar a máquina depois, pra ela não feder a leite azedo, mas seria interessante. Não, alguém já deve ter tentado isto antes, e se eu nunca ouvi falar, é porque não foi uma boa idéia. Além do mais, a máquina ficaria toda grudenta, e entraria leite em alguma parte impossível de limpar. Isso sempre acontece comigo. E quem estou enganando, eu nem tentaria limpar aquela bagunça. Eu nem tiro o filtro quando termino de fazer café.)

"E você tá sorrindo porque?"

(Pense rápido.)

"Eu? Ah, é porque eu sei que com essa impunidade que tem no Brasil, nada de concreto vai vir dessa situação toda. É por isto que nem prefiro discutir esse assunto, chega a me deprimir, ás vezes."

"Ah, pois é. Mas será possível que é assim toda vez?"

"Talvez."

(É sempre assim.)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Uma verdade surpreendente e muito importante

Isto vai soar como blasfêmia para alguns, mas direi assim mesmo. Preparem-se.

O Coringa do Heath Ledger- o ator que fez o cowboy gay, o ator que fez o cavaleiro com o logo da Nike em sua armadura- está melhor do que o Coringa do Jack Nicholson. De fato, o Coringa do Heath Ledger faz com que o Coringa do Jack Nicholson pareça com o Coringa do Cesar Romero.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Agora no twitter

www.twitter.com/igorbarbosa

terça-feira, 15 de julho de 2008

O Funk do Credo

O comentário do Igor no último post me convenceu: preciso largar meus preconceitos e começar logo minha carreira artística como integrante da dupla funkeira ecumênica: MC Jão e DJ Iguinho. Tenho até planejado o nosso primeiro single, clipe e tudo.

O clipe será gravado na capela de um monastério alemão, a câmera pairando sobre os vitrais gigantescos e a fumacinha de incenso enchendo o lugar. E então, as voluptuosas (mas completamente castas) Mulher Joio e Mulher Trigo entram, vestidas de freira e com as mãos levantadas, suas palmas levantadas para os céus. Tum-tum-tum-tum, a batida começa, com sons de orgão e címbalos acentuando o ritmo. Vê-se o DJ Iguinho, em trajes pretos de frade dominicano rodando os discos na sua turntable. MC Jão entra de terno preto e colarinho clerical branco, uma bíblia versão King James em uma mão e o microfone na outra. Atrás da dupla, monges franciscanos começam a se enfileirar, batendo os pés em ritmo com a música, enquanto a Mulher Joio e a Mulher Trigo dobram seus joelhos virginais, encostam suas cabeças no chão, e começam a louvar o nome do Senhor. A música está começando.

MC Jão: AÊ GALERA APOSTÓLICA, Esse é o funk do credo! Recitem comigo!
Credo in Deum Patrem omnipotentem, Creatorem caeli et terrae!

Coro Franciscano (entoando em canto gregoriano): Credo! Credo!

MC Jão: Et in Iesum Christum, Filium Eius unicum, Dominum nostrum!

Franciscanos: Credo! Credo!

MC Jão: qui conceptus est de Spiritu Sancto, natus ex Maria Virgine, (CREDO!)
passus sub Pontio Pilato, (CREDO!) crucifixus, mortuus, et sepultus, (CREDO!)
descendit ad ínferos, tertia die resurrexit a mortuis,
(CREDO!)
ascendit ad caelos, sedet ad dexteram Patris omnipotentis,
inde venturus est iudicare vivos et mortuos.


Franciscanos: Credo! Credo! Credo! Credo! Credo Credo Credo Credo Credo!

MC Jão: Credo in Spiritum Sanctum- pausa dramática-
sanctam Ecclesiam catholicam, sanctorum communionem.

Franciscanos: Credo! Credo!

MC Jão: remissionem peccatorum,
carnis resurrectionem,
vitam aeternam.


Franciscanos: Credo, Credo, Credo, Credo Credo!

Todos (exceto a Mulher Trigo e a Mulher Joio, que estão em êxtase espiritual, contemplando a doce face de Nosso Senhor): Amen!

E viva o funk ecumênico.

domingo, 13 de julho de 2008

O baile funk gospel

Nunca entendi o fascínio que a gospelização de entretenimento secular tem sobre tantos crentes. Entendo o impulso de buscar alternativas musicais evangélicas dentro de cada gênero, e por isto entendo, e simpatizo com, a interminável fileira de pagodeiros, metaleiros e forrózeiros evangélicos- desde que, é claro, eu não tenha que ouvir a música deles. Mas as pessoas levam isto longe, longe demais, para atividades que são duvidosamente cristãs, ou até mais, abertamente opostas à prática cristã.

Por exemplo: o baile funk gospel. Em teoria, concordo 100% com a idéia de que é possível glorificar a Deus com o funk, tanto quanto com qualquer outro gênero musical. MAS: alguém já foi para um baile funk gospel sem ver pessoas se trepando na pista? Eu já vi, com estes olhos de carne, pessoas dançando num baile evangélico de formas que deixariam as dançarinas do créu envergonhadas. O mesmo com a rave evangélica. E mais: música de rave, pelo menos segundo meu entendimento limitado, é aquela sucessão de batidas repetitivas e somente apreciáveis com a ingestão de pelo menos alguns halucinógenos. Num gênero onde poucas músicas sequer tem pessoas cantando, como, exatamente, é possível fazer uma música cristã?

E eis o que estou tentando dizer: não é que participar de um baile funk gospel ou de uma rave gospel seja pecado; mas se as pessoas vão se comportar de forma mundana em ambos, porque não vão logo para um baile mundano? Se você vai dançar como as cachorras, porque quer fazê-lo ao som de músicas sobre Jesus? Se as pessoas agem de forma exatamente igual em um ambiente e no outro, qual é a diferença entre um e outro? Porque se preocupar em fazer uma alternativa gospel, se a alternativa possui diferença nenhuma do padrão secular?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

E isto não vem de vós

Respondendo ao desafio do Igor, vou explicar, de modo grosso e geral, o que significa o conceito protestante de salvação pela fé. Salvação pela fé é uma expressão mal-usada, muitas vezes, justamente porque leva pessoas a acharem que tudo o que basta para a salvação é uma espécie de assentimento intelectual. "Sim, sim, Deus é jóia, e Jesus é maravilhoso- agora sou salvo também." Não é. A salvação nunca- nunca, nunca- pode partir de iniciativa nossa, nunca é uma decisão inicial nossa, nunca é uma busca nossa. Não é uma questão simples de "ter" fé. Mas vamos começar do começo.

O homem sem Deus não tem a possibilidade, a chance, a sombra de uma esperança, de satisfazer a justiça eterna de Deus, e nem a menor vontade de fazê-lo. Romanos 3:9-20 já explica claramente a posição humana. Por isto, apesar de muito querer, não consigo acreditar na salvação daqueles que nunca ouviram o evangelho; eles não podem ser batizados pelo desejo pelo simples motivo de que o desejo do homem caído é completamente corrompido. Egoísmo, ódio, e a inimizade contra Deus são o status espiritual inicial de todo ser humano, e é isto- e não o fato de nunca terem ouvido o evangelho- que os condena. É a doença que mata, não a falta de remédio.

Esta incapacidade de justiça real, de buscar a Deus, também é o motivo pelo qual o homem não pode simplesmente escolher ter fé. É o motivo pelo qual obra nenhuma- nem mesmo a obra de amar a igreja, ou de pertencer a ela- pode salvar; nossa justiça é imunda, nossas mãos são fracas, nossa vontade é escrava, e nossa fé não é nem mesmo nossa, porque é um dom de Deus, e não uma decisão humana. Se o homem pudesse ser salvo por obras, poderia ser salvo pela lei; e se o homem pode ser salvo pela lei, Jesus morreu em vão. O homem é salvo inteiramente pela ação e misericórdia de Deus. Ele nos busca, e não vice-versa. Nesta visão de depravação total tanto calvinistas como arminianos concordam.

O novo nascimento, o momento em que o homem deixa de viver em trevas e passa a andar na luz, o momento em que ele deixa de pertencer ao mundo e passa a ser um filho de Deus, é resultado da fé. Através da fé o homem pode aceitar o sacrifício de Cristo, através da fé o homem pode entrar na nova existência; mas esta fé não é, como já foi dito acima, uma atitude humana, um mero assentimento intelectual. É dom de Deus. Aliás, o próprio Paulo explica isto majestosamente em Efésios 2, uma das mais perfeitas exposições da doutrina da salvação. Daí a dificuldade de definir "que tipo de fé" salva; porque a única fé verdadeira, a fé real que gera arrependimento e salvação, vem exclusivamente do alto, e é impossível compreendê-la completamente.

Quanto a como o homem recebe esta fé- seja pela graça irresistível de Deus, segundo seu conselho eterno (como diria um calvinista), seja pela graça preveniente de Deus, segundo sua vontade de salvar a todos (como diria um arminiano)- isto é objeto de debate esquentado; mas debate intra-protestante, e não debate protestante-católico. Ambos, no final, afirmam a mesma coisa: apesar da salvação vir pela fé, a fé não é criada por nós, mas dada por Deus. A salvação não vem se você combinar as doutrinas certas em sua mente, como se a salvação fosse uma receita de bolo com diversos ingredientes; a salvação vem quando você recebe de Deus o dom da fé- e esta fé não é uma sensação fofinha, uma mera inclinação espiritual ou mística, mas carrega dentro de si um conjunto de doutrinas sólidas e eternas. A fé não é mero assentimento intelectual, mas ela opera não somente no coração, mas também (e talvez principalmente) na mente.

Quanto ao conteúdo desta fé, os pontos específicos nos quais passamos a crer, é complicado dizer que um ou outro é absolutamente necessário como sinal de que a fé é verdadeira. Creio, porém, que a fé gerada por Deus estará fundamentada nas seguintes verdades: que há um só Deus em três pessoas: Pai, Filho, e Espírito Santo; que este Deus é nosso criador, e criador do universo, e que todas as coisas foram criadas para sua glória; que pelo pecado de Adão nos tornamos pecadores merecedores do inferno, mas a misericórdia de Jesus Cristo, Deus e Filho de Deus, excedeu nossa iniquidade; que Jesus Cristo, o Filho eterno, o Logos de Deus, a perfeita expressão de seu caráter, se fez carne, viveu sem pecado, foi traído, torturado, e executado, e pagou por nossos pecados com seu justíssimo sangue; que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos, vencendo a morte e garantindo a ressurreição futura daqueles que o servem; que Jesus Cristo ascendeu ao Pai, e está assentado ao seu lado direito, governando sua igreja e preparando um lugar para ela na eternidade; que Deus agora aceita e justifica suas criaturas pelo sacrifício de Cristo; que ao homem justificado é possível buscar santificação, e viver em obediência a Deus, através do poder e da presença vivificante do Espírito Santo; que há uma comunidade eterna e única dos santos, o corpo de Cristo: a Igreja, santa e gloriosa, eternamente e espiritualmente unida, apesar de estar separada por divisões temporárias e dissensões doutrinárias; que Deus nos deixou sua Palavra, santa e inspirada, proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, e para instruir em justiça; que um dia Jesus Cristo dará um fim à história humana, e que todos- os vivos e os mortos, os santos e os pecadores- darão contas perante a ele; que novos céus e nova terra aguardam os que pertencem ao Senhor, mas todo aquele que recusou sua misericórdia sofrerá eternamente sob seu juízo.

Estes são os pontos sobre os quais todo cristão pode (ou ao menos deveria) concordar, os ossos do cristianismo, os fundamentos sem os quais o edifício não pode ser construído. Não digo que a fé resultará apenas nestas crenças, mas que a fé não virá sem que elas venham junto. E é esta fé, que vem do Senhor e transforma nossas mentes, que traz a salvação, tanto do protestante quanto do católico. Esta é, de modo resumido e grosso, a posição protestante, e é o que queremos dizer quando pregamos que a salvação vem pela fé.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

E tem mais uma coisa

É verdade que estou aqui dividindo espaço com três hereges, o que pode dar a impressão errada de que eu concordo com as opiniões pessoais deles ou que não zelo pelos meus leitores, expondo-os a posições doutrionárias inaceitáveis.

Desconfortos de centrar-se em um absoluto. O livre-exame, que João, Éber e Gustavo proclamam, permite que eles façam conviver confortavelmente suas crenças, sem maior agravo. Eu não. Tenho que dizer, na face, que o livre-exame é uma heresia da qual só pode decorrer muitas outras heresias.

Eu não os amo? Claro que amo. Amo os pecadores, sem amar o pecado (até a mim me amo, e odeio meus pecados). Amo os amigos, sem amar seus erros. Amo a Deus vivendo neles. E amo a nossa base comum: As palavras do Cristo na Bíblia. A tradição Católica é um chão onde aqui somente eu ando, assim como eles seguem as tradições anglicana, luterana ou pentecostal.

No entanto, o que me levou a ser católico foi uma grande vontade de encontrar o Cristo real. Procurei, e achei o Santo Apóstolo Pedro, os santos papas seus sucessores, todos os Santos; creio que enquanto isso, Nossa Senhora pediu, e foi Nosso Senhor que me encontrou.

Então, isto claro, digo: Nossa espada comum é para os ateus, para os pagãos, e mesmo para os crentes e católicos que falam de Cristo sem conhecê-lo. É para você ver que esse assunto, o Cristianismo, está cheio de seriedade. Que seus preconceitos contra a fé são apenas isso: superstições modernas. Para os infiéis nossa espada. Mas não somos muçulmanos, então, quem quiser nossa espada pode também fazê-la sua - basta ver que ela é, de fato, uma cruz.

Isto posto, proponho uma brincadeirinha.

Eu acredito que aquele que não pertence à única Igreja de Cristo (preciso dizer qual?), quando morre, vai pro inferno, com exceção daqueles que por ignorância invencível não podem conhecer o evangelho (estes podem-se dizer que sejam batizados por desejo, se obedecem a lei natural) e daqueles que, tendo sido batizados validamente (em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, com intenção de perdoar os pecados, tanto original quanto atuais), mesmo que ilicitamente, pertencem à Igreja Invisível, ou seja, mesmo fora da Igreja Católica são seus membros espiritualmente.

Aplicando estes dados, creio que meus três companheiros de blog podem, sim, ir pro céu, se se arrependerem de seus pecados e se amarem ao longo da vida a Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo, deixando este amor crescer e frutificar (eu rezando para que seja numa conversão). Isto é, pela obra de pertencimento mesmo que inconsciente à Igreja, podem se salvar.

Enquanto isso, eles crêem que eu me salve pela fé. Mas basta mesmo ter fé? Creio em um só Deus, Pai Onipotente, e em Jesus Cristo, seu filho unigênito, Nosso Senhor - Isso basta para ir pro céu? Ou senão, que tipo de fé salva e que tipo de fé perde? Com essa questão levantada, encomendo posts.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Parágrafo no qual eu explico minha completa descrença num futuro melhor

Trata-se de algo tão óbvio, mas tão óbvio, que pretendo falar apenas uma vez. Pouco ou nada presta nessa história de leis mais exigentes e penas mais severas se temos uma polícia tão chinfrim como a nossa. Não me entendam mal: eu mesmo gostaria que algumas de nossas leis não fossem tão frouxas. Mas é que nossos policiais (com a nobre exceção do Capitão Nascimento) são os primeiros — notem bem: os primeiros, e todos sabem disso —, a se interessar pelo não cumprimento do que quer que seja. Leis com punições mais duras lhes rendem apenas subornos maiores. E mais nada. A nova lei de trânsito, por exemplo. Com o temporário rigor com que estão exigindo o cumprimento da “lei seca” — precisam mostrar a sua eficácia, e fazem isso exibindo números, que só idiotas levam em conta —, a antiga lei bastava. A diferença está apenas na necessidade de mostrar o serviço que em geral eles não mostram. Algo semelhante (guardada as devidas proporções) ao que acontece com a educação. De que adiantam projetos e mais projetos pedagógicos sofisticadíssimos se nossos professores são, em primeiro lugar, uns desqualificados — eles mesmos pouco entendem do que precisam ensinar às crianças — e, depois, uns completos desinteressados? De que adiantam? Digo isso apenas porque acordei com a certeza de que fazemos, todos, parte de um grande circo. Mas não dêem atenção ao que escrevo. Sejam felizes e tenham um bom dia.

Paul is a dead man, bury him

Conquanto não me desagrade ser comparado ao mais bonito dos Beatles, o que se non é vero eu até gostaria que fosse bene trovatto, devo repudiar aqui a analogia, antes que seja excessivamente tarde, e por dois motivos.
O primeiro, e mais fútil, é que entre os quatro autores deste blog, eu estou mais próximo do John Lennon, pelo fato de ser Católico; é claro que os protestantes daqui tendem a ver minha amada Igreja, Católica e Apostólica, como os demais Beatles viam a amada esposa (?) japonesa daquele que, entre eles, mais se parecia com o Ned Flanders. Como não podiam expulsar JL do grupo sem perder metade de seus talentos, tiveram que acabar o grupo. Certamente o fato de todos aqui serem cristãos os impedirá de me expulsar, mesmo eu representando menos que metade dos talentos aqui: Este é um grupo mais homogêneo que aquele. Também não pretendemos parar com o trabalho antes de fazer alguns cativos a Cristo, enquanto os Beatles largaram de mão depois de alguns milhões de discos vendidos.
A segunda, e mais verdadeira, é que não posso aceitar como modelo estes ídolos de hoje. Se meu propósito aqui é fazer cativos para Cristo, e creio que Cristo é cativante por si só, a melhor maneira de pescar homens para Ele é a de Pedro e André, a de João e Tiago: Seguindo-o apenas, imitando somente aqueles que o imitavam, que é uma forma segura de imitá-lo (veja São Paulo na 1ª carta aos Coríntios, 11,1) . Aqueles que se diziam mais famosos que Ele acabaram levando tiros dos próprios fãs.

domingo, 6 de julho de 2008

Filmes que amo: Shaun of the Dead

Um filme que se auto-denomina uma "comédia romântica com zumbis", Shaun of the Dead (traduzido idioticamente para o português como "Todo Mundo Quase Morto") é, junto com Walk Hard e mais um punhadinho de outros, um dos poucos e preciosos filmes que parodiam um gênero sem se transformarem em abominações tragicamente não-engraçadas e idiotas. Por exemplo, vocês conhecem alguma pessoa não-retardada que ame (realmente ame, e compre o dvd, e fale com os amigos sobre) filmes como "Tá todo mundo em pânico", ou seus oitenta milhões de sequels e sucessores espirituais, como o "Espartalhões" e (argh) "Deu a Louca em Hollywood"? Não, claro que não, porque estes filmes são horríveis e não-engraçados, e gostar deles é indicador seguro de que você tem uma doença na alma. Ou, pelo menos, na cabeça.

Shaun of the Dead começa devagar, seguindo dois dias na vida do protagonista nos quais o foco está em seu pequeno drama (a namorada que o abandona, o melhor amigo que só atrapalha sua vida, o emprego no qual ninguém o respeita), e nos quais o protagonista nunca dá atenção aos jornais (que agora se dedicam 24 horas por dia a noticiar o apocalipse zumbi). Apenas no terceiro dia é que a trama principal do filme começa: Shaun precisa resgatar sua namorada e sua mãe, e levá-las para um lugar seguro para que possam tomar seu chá em segurança; e é isto que ele faz, munido apenas com um bastão de cricket e uma breve aula sobre como fingir ser um morto-vivo.

Mas chega de escrever: achei no youtube uma de minhas cenas favoritas do filme: Shaun e seus amigos lutando com um zumbi ao som de "Don't Stop Me Now", do Queen. Assistam.



sexta-feira, 4 de julho de 2008

Os terroristas mais burros do mundo

Fico feliz com a libertação da Ingrid Betancourt, e etc., mas assistindo a mesma notícia de novo e de novo na CNN, uma pergunta surgiu em minha mente, e insistentemente tem se repetido: como é que os militares conseguiram roubar a refém mais valiosa das FARC com nada além de disfarces e um piloto vestindo camiseta de Che Guevara? Como, meu Deus? Não quero ser anti-américa latina, de modo nenhum, mas será que nem terroristas conseguimos fazer direito? Se eles foram enganados daquele jeito, porque não libertar todo o resto dos reféns? É só mandar algumas crianças infiltrarem os acampamentos das FARC e amarrarem juntos os cadarços de todos os guerrilheiros, e pronto: assim que os reféns começarem a fugir, os seus carcereiros irão tentar correr atrás, tropeçarão, e bingo: liberdade, doce liberdade.

Mas falando sério, FARC, se vocês são tão burros que dão sua refém principal numa bandeja de prata para os militares, vocês MERECEM viver no mato, perseguidos e mordidos por mosquitos e convivendo com cocaleiros. No momento em que vocês caem numa trama que parece ter sido inspirada num desenho animado, pendurem suas metralhadoras. Não há mais esperança para sua causa.

Militares colombianos se disfarçam para ganharem a confiança dos terroristas da FARC.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A ciência faz obsoleto crer em Deus?

Em nossa intimidade, nós modernos continuamos insatisfeitos. Cedo ou tarde encaramos uma crise existencial, e reconhecemos em nossas vidas algo destruído, desordenado, pedindo por redenção. O fato de que possamos reconhecer a desordem, a destruição e o pecado significa que estes ocorrem um uma situação maior de ordem, beleza e bondade, ou em princípio não poderíamos reconhecê-los como tais. Ainda assim a destruição e a desordem são dolorosamente presentes, e a alma humana por sua própria natureza busca algo mais, uma felicidade mais profunda, um bem definitivo. A contemplação da ordem e da beleza na natureza pode nos conduzir a um Algo, ao "deus dos filósofos", mas contemplar nossa incompletude pode nos levar além, a procura de um alguém que é o Bem de nós todos.

A ciência nunca tornará esta procura obsoleta.


(Final da resposta do Cardeal Schönborn, Arcebispo de Viena. Tradução da casa. As outras você pode ler aqui.)

terça-feira, 1 de julho de 2008

Anglicanos conservadores:

Eles existem.

A Missa Tradicional

A Missa Tradicional, chamada também Tridentina, de São Pio V, Latina, Gregoriana, Missa de Sempre, Missa Antiga (..), é a Missa da Igreja Católica Apostólica Romana em sua forma tradicional, isto é, de acordo com as formas canonizadas por São Pio V para marcar o ato positivo da Igreja que correspondia à condenação da reforma protestante, e em uso até a reforma litúrgica que instituiu o NOVUS ORDO MISSAE de Paulo VI em substituição ao Missal impresso sob o Beato Papa João XXIII.

Há várias diferenças de ordem teológica entre ambas, que podem ser estudadas em detalhe, consultando-se as fontes disponíveis e ouvindo o magistério da Igreja. No entanto, as diferenças mais comentadas são de ordem estética, ou seja, relacionados mais à forma que ao espírito. Como cremos com sinceridade, oramos com sinceridade: Portanto esta divisão entre forma e conteúdo é apenas conceitual, enquanto permanece a identidade entre devoção espiritual (a fé, a esperança e a caridade que nos movem) e devoção corporal (o idioma, a postura e os gestos que usamos).


Por que o Latim?

1) Porque o Latim é uma língua já não mais utilizada para a vida do dia-a-dia, ou seja, é uma língua estável. Não se pode dizer que seja língua morta enquanto for língua da igreja. Mas sendo estável, o significado de suas palavras e expressões não muda, e portanto as diferentes gerações sempre entenderam e entenderão tudo que se diz na Missa da mesma forma.

2) Porque o Latim é belo: Isso já era reconhecido muito antes de haver Missa, por vários povos do mundo inteiro. Para Deus deve-se dar o melhor; portanto, deve-se ofertar o sacrifício da Missa na mais bela língua disponível para este ato. Além disso, há palavras em Grego e Hebraico, além dos trechos já habitualmente falados em língua vulgar.

3) Porque o Latim é universal: Aquele que se habitue ao latim da Missa poderá entendê-lo em qualquer lugar do mundo, independente de entender a língua local ou não, e saberá que toda a Igreja reza com as mesmas palavras.

Por que o altar voltado ao oriente?

1) Porque o sacrifício da Missa é oferecido a Deus, então convém que o sacerdote, celebrando na pessoa de Cristo, se volte para onde Deus está, voltando-se para o crucifixo, para o sacrário e para o leste, onde nasce o “sol da justiça”.

2) Porque o sacrifício da Missa é oferecido por Cristo, primeiramente, e em seguida pelo Sacerdote associado à assembléia; portanto convém que o Padre e o Povo tenham conjuntamente os olhos postos no objetivo comum.

3) Porque o padre, voltado para a assembléia, corre o risco de ser tentado a personalizar em excesso sua celebração, quando na verdade deve despersonalizar-se para rezar in persona Christi (Na pessoa de Cristo, ou representando Cristo). O Sacerdote não deve exercer um papel de liderança e de influência; mas antes deve apresentar-se como servo escolhido de Deus, para maior ação do Cristo em sua vida, para máxima imitação do Cristo.


Por que a comunhão de joelhos, e na boca?

1) Porque o pão e o vinho eucarísticos somente preservam as aparências de pão e vinho, mas são Jesus Cristo, Nosso Senhor e Nosso Deus, em Corpo, Sangue e Divindade. E diante de Deus todo joelho se dobre.

2) Porque a língua é o órgão da palavra, e o que nos diferencia de toda a criação, fazendo-nos “logo abaixo dos anjos”; suas obras podem ser piores (calúnias, mentiras, ofensas, e tantas outras) que as das mãos, e também podem ser melhores: Instrução, Encorajamento, Oração... Convém tornarmos nossa boca santuário do Senhor, pois através da boca saem as coisas que temos no coração, então através da boca deve entrar Nosso Senhor para habitar em nossa alma.

3) Porque muitas pessoas mal-intencionadas abusam da liberdade concedida pela Igreja ao dar a comunhão na mão para roubar o corpo de Cristo para uso em rituais satânicos - e isto é mais freqüente do que possa parecer.


Depois de tudo isto, por que a Missa Tradicional?

A Missa tradicional é um tesouro da Igreja, desenvolvido desde a sua criação por Cristo Jesus, que teve sua forma regulamentada para proveito de todo o povo de Deus por São Pio V e São Pio X. Nenhuma de suas principais características exteriores pelas quais é considerada “diferente”, “ultrapassada” e outras ofensas foi oficialmente proibida pela Igreja; ao contrário, continuam sendo a norma, embora o que hoje se veja com maior freqüência seja a exceção.

Mas não deve ser assim. Devemos obedecer ao magistério e à tradição da Igreja da melhor e não da pior forma possível. Se a Igreja nos abre exceções e concede facilidades, devemos analisar se é por necessidade real ou por comodismo que as vamos usufruir.

A comunhão na boca, e de joelhos, por exemplo, torna mais demorada a Missa. Mas será verdade que todos os presentes na fila estão em situação adequada para a recepção da hóstia? Nenhum vive em pecado? Nenhum está sem confissão?E mesmo assim, se nos sacrifica esperar pela comunhão de todos os fiéis na Igreja, será que lembramos que Jesus sofreu flagelo e crucifixão durante quase vinte horas, e não ficou numa fila por vinte minutos? Será que oferecemos a Deus este sofrimento em reparação aos nossos muitos pecados?

Esta maneira de pensar nos leva à conclusão de que não precisamos, honestamente, abandonar a tradição.

A reforma litúrgica que se seguiu ao Concílio Vaticano II teve por fim obter uma maior participação dos fiéis na Liturgia. No entanto, isto não é vedado ao fiel que assiste uma Missa Tradicional! Há vários trechos dialogados e rezados pelos fiéis. Além disso, espera-se de cada presente na Missa uma atitude de adoração a Deus que é favorecida pela estrutura da mesma, pela beleza e simplicidade do canto, e pela atitude devota do celebrante.


Mas não foi proibida?

Nunca! Aquilo que foi costume por dois mil anos não pode ser crime de uma hora para outra. Aquilo que foi tesouro amado desde sempre não pode tornar-se opróbrio. O que foi holocausto agradável a Deus não pode ser ofensa.

A Missa em sua forma tradicional foi abandonada por muitos membros da Igreja, na intenção de torná-la mais atraente através da adaptação de suas maneiras às maneiras do mundo. E o resultado mais visível é que hoje já quase não se percebe diferença entre ser ou não católico, exceto pela presença na Missa dominical – que, ai de nós!, pouco se diferencia, muitas vezes, de um culto protestante ou de uma festa mundana.

Estamos neste mundo como Igreja Militante. Como fazer a vontade de Deus? Sendo sal da terra. Afirmando claramente as razões de nossa esperança. Mostrando a todos o Cristo Ressuscitado. Ele atrairá tudo a si, como Ele mesmo prometeu. A alegria de participarmos do corpo místico de Cristo será nosso maior argumento, e não a alegria vazia das danças e palmas. A Cruz de Deus será a nossa luz!

Viva Cristo Rei! Viva a Santa Una Igreja Católica, Apostólica, Romana!