terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quando eu era adolescente, gostava de ir a um shopping próximo da escola e ficar no café, onde normalmente eu pedia um café simples que vinha com um par de biscoitos amanteigados. Eu ficava lá, sentado, escrevendo e desenhando, observando as pessoas que vão ao shopping fazer o que quer que as pessoas façam no shopping - provavelmente as mesmas coisas que eu faço, hoje que não há mais o café nem os biscoitos amanteigados naquele canto onde, se eu fumasse naquela época em que eu não me lembro de ser proibido fumar no shopping, eu comporia uma imagem demasiado cliché, exceto pelos meus 16 anos, inaparentes na minha altura e barba da época. Fui bem alimentado durante a infância e tenho a barba de muito boa qualidade, sempre tive, desde que ela começou a nascer, já uniforme e progressivamente enchendo o rosto até atingir o seu apogeu, que se mantém até hoje. Mas enfim, eu ia ao shopping, bebia café e isso provavelmente tinha seu charme, ou pelo menos o momento e lugar seriam bem apropriados para eu fazer o famoso sucesso entre as mulheres, o que de fato eu fazia, pois era mais divertido que apenas sentar e beber café. Uma vez uma moça aparentemente 5 anos mais velha que eu parou em frente ao balcão, e ficou ali fingindo não saber o que queria, porque na verdade ela estava obviamente interessada em mim, o que os fatos posteriormente comprovaram - acompanha. Ela estava lá, toda cheia de dúvida, e eu disse "não sabe o quer? prova isso" e ela pegou a minha xícara sem hesitar, provou e pediu o mesmo que eu pra moça do balcão, esta feinha que doía e muito antipática. Era café, e quando veio café simples ela disse que não, que estava errado, porque o meu era completamente diferente, etc e eu disse para ela sentar na mesa, peguei os biscoitinhos que vinham junto com o café e joguei dentro da xicara e perguntei se ela estava com a mão limpa. Ela disse que sim, então eu esperei dois minutos e a fiz misturar tudo com o dedo, o que ela achou ainda mais nojento que jogar biscoitos no café, mas por algum motivo fez tão direitinho quanto um adolescente com bastante habilidade, e chupou o dedo melhor do que eu o teria feito, não fosse um cavaleiro e soubesse onde aquele dedo havia estado antes de totalmente cercado de café e biscoitinhos amanteigados derretidos. Acontece que biscoitos amanteigados = açúcar + gordura + amido, quero dizer, o efeito dos biscoitos no café era o mesmo de adicionar creme, adoçá-lo um pouco mais e tornar o conjunto todo mais espesso, por causa do amido; se duvidar, pegue uma embalagem destas de sopa instantânea, e está lá o amido, o ingrediente mágico que transforma um caldo de temperos vagos em um grosso e confortável creme. O amido é o melhor amigo do fabricante de comida. O fato é que o café dela ficou idêntico ao meu, porque é isso mesmo que eu fazia, jogar os biscoitos dentro e mexer com os dedos de uma moça bonita ou com uma colher, na falta de moça bonita. Ela ficou lá, sentada ao meu lado, bebendo o café cremoso mais estranho da vida dela até então e, na falta de pão de queijo, me comendo com os olhos. Depois de uns 10 minutos, pegou uma caneta na bolsa, anotou o telefone no meu caderno, levantou e foi embora.

3 comentários:

Ju. disse...

Esse texto me lembrou A Sombra do Vento.

bom livro.

Alex Malta Raposo disse...

Parabéns pelo belo blog e que o Deus eterno continue abençoando a sua caminhada e o seu trabalho.

alexmaltta.blogspot.com
Evangelho da Graça

julianagoes disse...

Muito bom o texto! Me diverti bastante!
Ótima leitura!
=D

julianamgoes.blogspot.com