quinta-feira, 9 de julho de 2009

Suplicantes

O publicano feliz peca, faz
do roubo respeitabilidade.
Seus olhos tudo enxergam com a
astúcia das aves de rapina.
Moedas como figos, dinheiros
como pães, vítimas como filhos,
filhos como bocas. O preço é
traição aos pais, ao sangue do irmão.
Com esposa estrangeira e seus
escravos compatriotas, sua fé
existindo quando há problemas,
Deus existindo para os resolver.

Infeliz peca o fariseu, faz
da noite sua capa, do escuro
seu escudo, do coração o seu
esconderijo. Seus olhos vêem,
pelas lentes da lei, a justiça
impossível: o ódio a si
torna-se logo ódio aos seus,
seus pares e seus inferiores.
"Sente-se aos meus pés e aprenda
justiça, satisfaça o juiz."
O juiz que ele odeia, o
Deus que existe para condenar.

O publicano, honesto em sua
desonestidade, com lágrimas
implora o perdão da semana.
O fariseu, mentindo para Deus
tanto quanto a si mesmo, gaba
de sua justiça inexistente.
O juiz ouve um e ignora
o outro. Ao publicano perdão,
ao fariseu seu silêncio. Deus!
Tenha piedade do fariseu;
A gabolice do santo também
pode ser um gemido por graça.

Um comentário:

Raphael Rap disse...

Esse último verso mata a pau todas as relações que devemos ter com aqueles que consideramos fariseus:

"A gabolice do santo também
pode ser um gemido por graça. "

Muito bom.