Estive me perguntando porque tenho tanta dificuldade para escrever nesse blog. Quem sabe se eu expor os motivos em consigo exorcizá-los.
O que me congela os dedos no momento em que os deito sobre o teclado?
1) A realização de que, se o assunto é teologia, 99% do que pode ser dito sobre qualquer coisa já foi dito, e o 1% restante é para mentes muito acima da minha. Sempre tenho medo de, no momento em que eu começar a discutir algum conceito teológico que me parece interessante, ter a aparência de algum primeiro-anista explicando pedantemente o que significa eleição. E, aliás, se as próprias idéias pelas quais sou apaixonado são as que sempre me fascinaram- trindade, cristologia, etc- (e sim, também eleição), o quão diferente sou eu do primeiro-anista exibido?
2) O medo de ser didático. Eu não quero ser educativo no blog. Ensinar já é o que faço todo dia na sala de aula, agora vou ensinar aqui também? Mas falar de teologia já é cair na educação, porque a igreja brasileira é teológicamente analfabeta, e pra discutir qualquer doutrina precisamos antes de mais nada explicar o que ela é. Ou o que ela realmente é. O problema é universal. Quantas vezes o calvinista precisa explicar que perseverança dos santos não significa que se pode viver uma vida moralmente irresponsável? Quantas vezes o católico precisa explicar que venerar os santos não significa adorá-los?
3) O desinteresse em assuntos fora da teologia. O que me assusta é o quanto estou mais interessado na Bíblia e na tradição cristã hoje do que era quando estava no primeiro ano do seminário. A Bíblia se tornou uma espécie de velha amiga, uma companheira de infância com a qual estou tão acostumado, tão conhecedor de suas idiossincracias e tiques, belezas e profunidades discretas. Os nomes que existiam na lousa e nos livros de história da teologia se tornaram heróis e confidentes, leitores de mentes e professores particulares. Agostinho um companheiro de oração, que sabe, assim como eu, o quanto os pecados sussurram "Nunca mais? Você nunca mais terá conosco?" até nos momentos em que mais nos aproximamos de Deus. Irineu um místico sentimental e severo, combinando e mesclando alegorias como se fossem memórias distantes, um pastor forçado a ser apologeta por amor aos seus, um amante forçado a ser guerreiro. Atanásio é o guerreiro nato, um cruzado armado com a espada da Palavra e o escudo da Trindade; e então ele remove sua armadura e maravilha-se, com a meiguice e surpresa de uma noiva, com o amor maravilhoso do Verbo Divino. Calvino, a quem eu odiava tão intensamente como um adolescente que rejeitava sua soteriologia por instinto, e não por qualquer motivo doutrinário- Calvino é meu professor de teologia, que me desafia a discordar, que me inspira pela fome e gosto com que ele mergulha na Bíblia. E em muitos casos- mais do que eu gostaria de admitir- acabo concordando com o velho bode. Barth é como um bom amigo-d0-msn, que ora me faz dar soquinhos no ar de aprovação, ora me deixa acordado de noite imaginando contra-argumentos; Ele é um desgraçado, mas um bom desgraçado. E até os maus desgraçados são bons, apenas pelo prazer de refutá-los mentalmente.
Aqui está o problema: não é que eu não me interesse mais em política ou música ou filmes, é que eu não quero escrever sobre essas coisas. Quero escrever sobre a Bíblia, e sobre a salvação, e sobre a trindade, e sobre as naturezas do Senhor Jesus. Mas se faço isso, serei derivativo- quem sou eu, além da soma de minhas influências?- e pedante. Enfim, um mero professor, um popularizador de tesouros descobertos e catalogados por outros. E isso me desanima, rouba todo meu entusiasmo inicial.
Eu achava que ao final deste post eu acharia uma resposta, algum alívio. Algo interessante, pelo menos, com o qual pudesse encerrar o post. De qualquer forma, é apenas isso que tenho a dizer.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
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3 comentários:
Dadas as devidas proporções, posso aplicar a mim mesma seu post inteiro. Se eu que fico imersa na música 24 horas por dia - se não tocando, lendo e estudando - acabo não tendo muito mais espaço mental pra outras coisas, posso imaginar como é com quem estuda teologia, que trata de, bom, tudo o que realmente importa.
Pois bem, também tenho medo de ser didática demais (porque as pessoas também não são nada alfabetizadas musicalmente), de dizer tudo o que outro por aí já disse tintin por tintin, de dar pitacos que talvez nem sejam pra mim e sim pra alguém mais capacitado e inteligente... Sei bem com como é, e ainda assim, como leitora quietinha e fiel que sou deste blog desde tempos imemoriais, devo discordar, barulhenta e mui prolixamente, desse silêncio!
Afinal, se a igreja brasileira é analfabeta em teologia, é bom que haja alguém que desperte algum interesse. Se achar chato ser didático (eu não resisto às vezes, confesso, mas também não acho chato ler), vale pensar que quem se interessa vai atrás de mais informação. Ah, escreva, escreva! Só esse terceiro tópico, com Agostinho, Barth e o meu caro Bode Velho, já dá vontade de ler mais. E é uma judiação deixar o leitor assim chupando o dedo, se é!
(Mas sim, chega de ser resmunguenta. Abraços!)
Fernanda, obrigado pelo comentário. Li seu blog agora há pouco, e achei muito interessante. Sempre quis aprender mais sobre música erudita, mas o mais próximo que meus gostos musicais chegam do clássico é classic rock- Creedence, Zeppelin, BOC, etc, hehe. Mas daí cheguei ao seu post em que você citou o que é uma das melhores passagens do Screwtape Letters, e senti-me logo em casa.
Um abraço!
Ah, desses clássicos eu gosto também! Que bom que gostou do blog. Não é só feito de música, mas como disse, é só no que ando conseguindo pensar... :^)
Abraço!
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