terça-feira, 16 de setembro de 2008

DFW

Eu nunca li Infinite Jest, nem tenho o livro; e suspeito que se o tivesse, ele estaria acumulando poeira junto com os outros clássicos nunca lidos de minha biblioteca. Mas eu amava os ensaios de David Foster Wallace; seu tom seco e divertidamente (e, é óbvio, falsamente) ingênuo, seus picos de entusiasmo por entre as ondas de nonchallance, sua perspicácia perturbadora, suas infames notas de rodapé. Wallace foi (desafiem-me, se quiserem) o melhor ensaísta de nosso tempo.

Existe um prazer quando se descobre um prazer novo- um autor de quem você nunca ouviu falar, uma música recém-lançada, uma fotografia, uma receita inusitada- que está ligado, de certa forma, a um sentimento de posse. Ao descobrir e amar uma nova música, eu a ponho num mp3 player e regozijo com ela; eu poderia ouví-la, se eu quisesse, sem parar, até o dia em que morrer. É uma pequena beleza que entrou em mundo e nunca mais sairá dele. Mais tarde, posso até enjoar daquela música, esquecer daquele livro, rejeitar aquele poema, mas naquele primeiro minuto há uma glória em pensar que fui enriquecido para sempre por esta nova alegria. Lembro distintamente de sentir esta alegria lendo uma coletânea do DFW na biblioteca da universidade, uns dois anos atrás, e de pensar: preciso ler Infinite Jest. E de pensar: o que será que ele vai escrever no futuro?

Bem, ele lançou mais uma coletânea (o excelente Consider the Lobster) e se matou. E relendo os poucos livros dele que eu tenho, me sinto empobrecido, triste; toda a antecipação de projetos futuros se foi, e com ela se foi parte do prazer em lê-lo, pelo menos por enquanto. As próprias palavras dele ficaram mais escuras; toda menção ao suicídio, ao sofrimento, á depressão parece adquirir tons proféticos, ameaçadores, famintos. Só me resta orar por sua alma, e por sua família. E, quem sabe, finalmente ler Infinite Jest.

2 comentários:

Gustavo Nagel disse...

Eu simplesmente não tinha ouvido falar dele até essa semana. É com espanto que tenho reparado, em diversos blogues, o quanto ele era respeitado. Como li alguém escrever: "Ele tinha tudo, era respeitado no que fazia, e no entanto..."

Laila Castro disse...

john, querido!

vc tem email :)

beijo!