Primeiro post de três.
O que quebra o coração em Gênesis 3, o que momentariamente nos faz esquecer de doutrina e história sagrada e tudo mais, e fixa nosso olhar nas figuras desoladas de Adão e Eva exilados do jardim, é a irreversibilidade da perda deles. Uma desobediência os faz perder absolutamente tudo. Perdem seu lar e a cooperação da terra. Perdem sua igualdade e sua tranquilidade. Perdem a paz na presença de Deus, a reação natural da humanidade ao revelar-se de Deus sendo, daquele momento em diante, terror maior do que o da morte. Perdem a si mesmos- a naturalidade em seus corpos, a justiça de seus corações, a vida que lhes pertencia por direito- e ganham apenas o conhecimento do mal contrastado com seu conhecimento do bem. O que é, no final das contas, como qualquer outro experimentar de um vazio; como a fome, como a solidão, como a sensação oca quando desmoronamos por dentro, e nos sentimos apenas uma fachada de pele e olhos. E eles passaram de plenitude ao vazio de forma absoluta e irreversível, para nunca mais se recuperarem.
A lição de Adão e Eva, que eles nunca esqueceram, e nós sempre esquecemos, é que somos condenados a viver para sempre com aquilo que escolhemos, que as marcas de nossas escolhas nunca desaparecem. Mesmo purificados de nossos pecados, carregamos as mil marcas que elas deixaram sobre nós- sobre nossa mentalidade, sobre nosso corpo, sobre nossa honra- que já nem podem ser extirpadas, porque são parte de nós, são cicatrizes indeléveis. Este é o drama do livre arbítrio: que Deus respeita nossas escolhas malignas ao ponto de permitir- se nós insistirmos- que elas nos acorrentem para sempre. Deus nunca desfaz o mal; Ele aceita apenas redimí-lo. A morte de Jesus é um lembrete brutal de que Deus não recusou-se a morrer para que fossemos redimidos; mas ele se recusa a estalar os dedos e apagar os erros que houveram.
No final, nossa reconciliação com Deus nos levará para muito além do Éden; mas o Éden em si nunca mais voltará. Podemos ser deuses; podemos ser recriados na imagem de Cristo; podemos brilhar como sóis na eternidade; mas nunca fomos, e nunca seremos, humanos. Não realmente humanos. A humanidade teve uma vida muito curta. Existiu com Adão e Eva, brevemente, e então dissipou-se em vapor e sombra. Quando Adão e Eva saíram do jardim, Deus pôs na sua entrada um anjo como sentinela, para garantir que nunca mais voltassem. O anjo era quase desnecessário. O Adão e Eva que viviam no jardim não existiam mais.
domingo, 17 de agosto de 2008
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