sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Voto Nulo

Eu opto sempre pelo voto nulo. Não por achar que, com ele, tenho possibilidade de mudar alguma coisa, mas porque, vivêssemos num país em que a liberdade individual fosse levada mais a sério, eu sequer votaria. Nas últimas eleições presidenciais, no entanto, lembro-me de ter votado em Alckmin — com o único propósito de impedir o segundo mandato de sabemos quem. Mas em nenhum momento cheguei a considerar as propostas do PSDB, como jamais considero proposta política alguma: — não importa quem são, o que pensam e no que crêem, se em Deus ou no diabo: — se chegarem aonde pretendem, isto é, aos cargos que almejam, é porque terão corrompido, pelo caminho, um tanto de pessoas e um outro tanto de princípios. Não porque, para fugir do clichê, o poder corrompa, mas simplesmente por serem brasileiros, e por terem que encarar, em razão disso, um processo viciado: — não há quem nele sobreviva sem imiscuir-se nos esquemas. Minha postura política é, por conseqüência, sempre negativa. Não apóio candidato algum, senão por, em alguma eventualidade, considerá-lo um mal menor, por temer um prejuízo ainda maior com a eleição de um candidato ainda pior, e por não ter, em resumo, a opção de não votar.

11 comentários:

Anônimo disse...

É uma postura invariavelmente estúpida, criada por uma linha de raciocínio com vários erros e distorções. Você diz que não estamos em um país em que se defenda a liberdade individual - mas não consegue perceber o engano evidente: você tem o direito de não votar em ninguém, e é isso o que faz. Você vota em branco. Vota em nulo. Seu direito de não participar foi assegurado. A obrigatoriedade de voto incentiva a participação no processo, o que deve servir para diminuir "os esquemas", assim como você chama. Você está defendendo seu direito de ficar em casa, na verdade. O fato de você não conhecer as propostas do PSDB é um dos fatores que torna o processo viciado. O fato de não gostar do Lula apenas por não gostar - o que é evidente, já que o país cresceu e manteve a política do presidente anterior - é um dos fatores que mantém o processo viciado. Sua distinção entre candidatos maiores ou menores só pode ser construída por marketing ou por historiazinhas e piadas - já que não conhece nenhum deles. Estou quebrando os argumentos: há respeito de liberdade individual, acrescido de incentivo à participação popular; há um processo 'viciado', mas é natural que haja e que seja aperfeiçoado aos poucos; e a sua postura política, tão idônea e acima dos conflitos, é causa direta do mal que você procura manter distante.

Igor disse...

who let the dogs out, who who who who who.

Gustavo Nagel disse...

Meu direito de não participar do processo só estaria assegurado se eu pudesse, no final das contas, não participar do processo, coisa que não ocorre. Mas trata-se de um raciocínio muito sofisticado, concedo. E meu blogue acaba hoje se o B.M. apontar onde, em meu texto, eu afirmei “que não estamos em um país em que se defenda a liberdade individual."

Igor disse...

B.M. = PT.

André disse...

Caro Gustavo, creio que o seu blog está a salvo. Mas nada mais surpreende depois que o tal B.M. deduziu todos os seus motivos pra não gostar do Lula a partir dessas poucas palavras que você disse sobre um outro assunto.

Abraços!

Anônimo disse...

Gustavo, se você quer as palavras exatas, evidente que não poderia citar, o que aliás é a base da sua provocação. Mas, se você diz que: "mas porque, vivêssemos num país em que a liberdade individual fosse levada mais a sério", e, se no nosso país a liberdade individual precisa ser levada mais a sério, é porque ela é levada pouco a sério, e, forçando um pouco adiante, se ela é levada pouco a sério, seria porque é pouco defendida.
Mas acho que não é o bastante para acabar com o blog, embora não fosse meu objetivo mesmo.
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André, estou a espera de sugestões suas sobre no que devo me basear para discordar de um texto senão no que está escrito nele. Creio que tem idéias surpreendentes.

Gustavo Nagel disse...

B.M.,

No final do seu raciocínio, você chega à conclusão de que minhas palavras podem significar no máximo, «forçando um pouco», que, no Brasil, a liberdade individual é «pouco defendida». Está vendo como eu não disse o que você havia afirmado anteriormente?

E se ela é pouco defendida ou não, eu não sei. O que importa é que os governantes, conquanto a tenham sempre na boca, levam-na, como já disse, pouquíssimo a sério. E é só por isso que somos obrigados a votar, obrigados a nos vacinar, obrigados a nos matricular em uma rede de ensino fundamental etc. etc.

André disse...

Caro B.M., direi o que penso a respeito, mesmo correndo o risco de conceder-lhe mais atenção do que você merece. Mas não me atrevo a prever se o que eu digo vai lhe parecer surpreendente ou não. A mim parece a coisa mais óbvia do mundo. Mas isso vai de acordo com o QI de cada um.

É o seguinte: se um texto nada diz sobre um determinado assunto, a melhor coisa a fazer é reconhecer que o texto não permite extrair conclusão alguma sobre o assunto. No caso em questão: se o Gustavo não apresentou suas razões para não gostar do Lula, e se não escreveu o post com o objetivo de apresentá-las, nada justifica a inferência de que esses motivos não existem.

Surpreso? Espero sinceramente que não.

Abraços!

Anônimo disse...

Bom, Gustavo, posso concordar com a premissa de que, afinal, não temos liberdade total. A frase "Meu direito de não participar do processo só estaria assegurado se eu pudesse, no final das contas, não participar do processo" é irretocável. Mas você parece ignorar totalmente o conceito de coletividade - as pessoas são obrigadas a votar porque aumenta (em tese) a discussão sobre a democracia; são obrigadas a se vacinar porque o contrário acarreta gastos excessivos ao dinheiro que todo mundo tem de dar; e são obrigadas a ir pra escola porque se não for assim, o país como um todo não sai do lugar. No final das contas, você parece me afirmar uma espécie de anarquismo.
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André, acompanhe o raciocínio. O Gustavo diz que não votou no Alckmin, com o propósito de não reeleger Lula. Penso em razões racionais para tal. Ou seja: políticas de governo. As políticas de governo do Lula foram extremamente parecidas com as do FHC, isto é, com o do partido do Alckmin. Votar apenas para impedir o Lula é evidentemente uma escolha de ordem pessoal, e, no caso de Lula, escolhas de ordem pessoal seguem todos essa linha: ele é analfabeto, ou ele não sabe comandar, ou coisa assim - e se ignora o que o mundo fala do presidente e os anos em que ele foi líder sindical, diga-se de passagem, não por sorte nem indicação.
Se você ler bem, pode ver que ele mesmo disse que não considera proposta política nenhuma. Que razões são essas, meu caro? Concordo: não posso inferir as corretas; mas deduzo as prováveis: preconceitos, historiazinhas e politiquezas.
A frase do surpreendente foi só pra te irritar, então não estou nem surpreso nem não-supreso.

André disse...

Caro B.M., você poderia ter se resguardado de expor seu raciocínio, que já estava perfeitamente claro desde o início. Se estivessem em discussão os meus motivos para preferir Alckmin a Lula, e não os do Gustavo, eu apontaria prontamente quatro falhas no seu raciocínio - e talvez mais algumas, se eu fosse analisá-lo mais detidamente. Abstenho me disso porque não vem ao caso e porque não acho que valha a pena. O problema todo, pelo que pude perceber, é que você julga saber muito de política, e com base nisso julga também que ninguém pode discordar de você com base em razões que jamais lhe passaram pela cabeça. Então deixo aqui uma sugestão: da próxima vez, ao invés de tentar adivinhar os motivos alheios com base em seus próprios raciocínios, limite-se a solicitar justificativas para aquilo que porventura não esteja bem explicado. O maior beneficiário de uma atitude mais humilde será você mesmo.

Norma disse...

B.M., acho que você está precisando expandir seus horizontes. Tá, a frase soa chavão (e é), mas acho mesmo o seguinte: você sairia ganhando se desse uma olhadinha detida em políticas diversas da nossa. Por exemplo, nos EUA, ninguém vota obrigado nem estuda obrigado. No entanto, dificilmente alguém poderia dizer que "os EUA não saem do lugar".