um longo, épico e, assim espero, divertidíssimo texto sobre as relações entre o Cristianismo e a Política.
Para ser bem longo, vou abordar o tema de dois pontos de vista: O filosófico e o histórico. Peço-vos boa vontade. Anos de política idiota, perversa e demente fizeram do Brasil um lugar lotado de ignorantes esperançosos seduzíveis e cínicos “esclarecidos”. Uma visão positiva, isenta e comprometida com o acréscimo de conhecimento da verdade é hoje em dia algo muito raro; é o que proponho, rogando a Deus que me ajude a conseguir expor o que por mim mesmo não poderia.
Começando pelo começo, vamos definir cristianismo como o conjunto de crenças e comportamentos que assume, ou deveria assumir, o sujeito que abraça a fé cristã. Esta definição tem sua utilidade para nosso propósito pois define o cristianismo pelo seu caráter social, independente da fé de cada indivíduo – que se omito não é por querer negar, é claro.
E vamos tomar como definição clássica de política que esta seja a maneira pela qual os homens convivem em sociedade e organizam esta convivência para o bem comum.
Entre duas realizações humanas (e aqui chamo a religião de realização num sentido diverso de criação, se é que você já não entendeu; a religião foi revelada por Deus, mas é praticada, também, pelo homem), inscritas no tempo, pode haver exclusão, coordenação ou subordinação.
Não me parece necessário explicar que entre a religião cristã e a vida política não há exclusão. O Cristianismo bíblico oferece as provas: Cristo diante de Pilatos disse que “Não terias nenhum poder sobre mim se este não te viesse do Alto”. Já São Paulo mandava na epístola aos romanos que fôssemos submissos às autoridades constituídas, pois nenhuma há que não tenha sido instituída por Deus. Disso tiramos uma certeza: Não há cristianismo anárquico.
Pode, portanto, haver coordenação ou subordinação entre a vida política e a cristã. Sabemos, também, que só pode haver coordenação de meios quando há igualdade de fins; e que a finalidade da vida cristã obter para as almas a boa vida eterna, enquanto a da vida política é obter para os indivíduos a boa vida terrena. Portanto, não se podem coordenar vida política e cristã, sendo necessário optar por um dos fins como superior (não ficando o outro desprezado) e portanto, um dos meios como ordenador, e o outro como subordinado.
Aqui poderíamos partir do princípio que, neste blog cristão, todos os leitores já fizeram a opção pela vida espiritual como mais importante que a corporal, mas não vamos. Primeiro porque não é tanto para convertidos que pregamos aqui, mas para aqueles que precisam se converter; e depois porque mesmo entre muitos cristãos prevalece a impressão de que as duas vidas não precisam superpor-se, convivendo lado a lado sem muita interação.
E isto é falso. Falso porque, como já visto, não há coordenação e paralelismo possível entre a vida política e a religiosa; e também porque pela própria natureza das duas atividades haverá, em toda a vida, ocasiões em que a política e a religião têm que ser praticadas simultaneamente.
Resta, então, a hipótese de que a vida religiosa deve ordenar e inspirar a vida política. Para isto, contribuem as seguintes analogias:
1) Em ambas há lei. Porém, a lei política na melhor das hipóteses será oriunda da lei natural, interpretada pelos homens à luz da virtude da justiça; enquanto a lei religiosa será dada por Deus, e portanto inacessível por si aos homens, sendo assim mais preciosa e digna de guarda.
2) Em ambas há hierarquia. Porém, a hierarquia política é técnica e funcional: O indivíduo e sua função se separam tanto quanto a sociedade não seja tirânica, e espere somente o exercício das funções administrativas, legisladoras e disciplinadoras dos ocupantes de cargos públicos, sem que com isso eles percam as atribuições de cidadão. Na hierarquia religiosa, no entanto, ocorre o contrário: Qualquer mudança é mudança de qualidade, e pega-se ao que o indivíduo tem de mais íntimo, sem que se creia possível desfazer esta mudança sem desfazer o próprio indivíduo. A hierarquia política, portanto, caracteriza-se por uma união circunstancial entre indivíduo e cargo; a hierarquia religiosa por uma unidade perenal entre alma e vocação.
3) Em ambas há convivência e troca de bens. No entanto, a vida política progride na medida em que os cidadãos fazem circular os bens materiais que garantem a segurança e o progresso da vida civil, enquanto na vida religiosa os bens que se trocam são oriundos de Deus, e por isso chamados dons. Mas uma diferença é essencial: Na cidade, aquele de quem muito se toma e a quem pouco se dá, por uma injustiça da sociedade, é o lado derrotado de uma sociedade competitiva; na Igreja, aquele que muito dá e pouco toma é o vencedor, ou mais que isso, pois é um vencedor que não deixa vencidos. Por isso se vê que a frutificação dos bens é mais eficiente no solo de Deus que no solo dos homens.
Com isso temos como patente que a política deve se pautar pela religião, e esta deve ser o princípio ordenador da política.
E isso nos traz uma questão atual: Como fazer boa política, isto é, política subordinada ao cristianismo, num sistema que já recebemos defeituoso, para usar uma palavra suave?
Confesso que não sei bem. O que tenho como certo é que, na impossibilidade de agir bem, deve-se no mínimo tentar não agir mal. Por isso, o mais recomendado para os cristãos me parece ser, neste momento, começar a pensar em votar nulo.
(continua)
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Começo aqui
Postado por
Igor
às
11:41
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