Uma característica universal de pessoas grossas, sem gentileza, e (em alguns casos) sem caráter é o fato de todas se proclamarem muito honestas. Não estou dizendo que toda pessoa que se diz honesta é grossa, embora talvez não seja muito modesta; estou dizendo que se há falta de educação ou de virtude, há auto-proclamação de honestidade, sinceridade, e integridade de caráter. O visitante que diz que o almoço estava ruim, o homem que corta a fila na frente de todos descaradamente, a mulher que acha defeito em todo serviço, não importa onde, não importa a situação, a alma caridosa que te informa que seu carro é uma bosta, a fofoqueira que faz de meias verdades e atenção imerecida o pão e manteiga de seu espírito: note como todos, todos sem exceção, se orgulham de sua honestidade, de como eles não tem papas na língua e falam mesmo quando algo não lhes agrada. Note como são pessoas de ação, que não deixam as hipocrisias incoerentes da sociedade impedir suas pequenas iniquidades egoístas. Note como toda falta de caridade, toda crítica destrutiva e maldosa, toda fofoca, toda falta de boa índole é justificada, é santificada, é beatificada com refrescante honestidade. O mesmo ocorre com pessoas sem modos. Eu não lavo as mãos depois de ir pro banheiro porque sempre fui assim, e me recuso a ser hipócrita e esconder meu verdadeiro eu; minha vida seria uma mentira se eu parasse de limpar a boca na manga; não vou ser hipócrita e fingir que gosto da vovó só porque a sociedade espera isso de mim!
E a grande ironia é que o orgulho de uma virtude não é apenas imodesto e feio; o orgulho também revela o quanto aquela virtude é difícil (ou talvez até mesmo impossível) para você. A honestidade é uma virtude tão básica- quase digo tão banal- que quem se orgulha dela revela que tem o senso moral de uma criança. É como ser excessivamente orgulhoso, e sempre comentar com outros, sobre o fato de que você sabe amarrar os sapatos sozinho, ou escova os dentes todo dia, ou sabe andar de bicicleta sem as rodinhas. Contar a verdade é o mínimo que se espera de uma pessoa em qualquer contexto social ou moral; esperar ser congratulado quando você anuncia sua imensa sinceridade é como esperar um troféu por não calçar seus sapatos no pé errado.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
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10 comentários:
Esse tipo de sinceridade só é encontrada nos verdadeiros cretinos. E só é tolerada em cretinos mais ou menos geniais, feito o House. Os demais fazem bem em adequar-se às hipócritas exigências de um mundo civilizado.
Ótimo post, João.
Sendo honesto, imodesto, feio e cretino e pouco cristão: eu respondi no outro post, mas queria deixar aqui nesse mais visível que eu não sou do PT - nem do PSOL, nem do PSTU, nem do PCdoB, nem de partido nenhum, e que a se a pessoa que disse que eu era do PT soubesse ler ela saberia que as idéias não são compartimentadas por partidos.
Se o b.m. soubesse ler, teria visto que:
a) eu pus o meu nome, então ele poderia ter se dado o trabalho de ler e repetir. Mas,
a.1) Se ele desse algum valor a ter nome, teria um, como um homem de verdade, em vez de uma sigla (como um partido).
b) Eu não disse que ele era do PT. Eu disse que ele é igual ao PT, ou seja, da mesma natureza, ou espírito.
E só. bm, vai pastar.
cada vez mais ha a tendencia de querer disfarçar um defeito, fazendo de conta que é uma qualidade. Como tantos que coneço que procuram disfarçar a sua tremenda falta de noção do que deve ou não ser dito, ou como dizem os brasileiros, pura grosseria, com uma verdadeira qualidade como a honestidade.
O B.M. é um misreader de primeira. Impressionante.
O Igor o teria chamado de petista se tivesse escrito: B.M. є PT.
E já respondo no outro post.
Respondi no outro post.
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Igor e Gustavo, as respostas no outro post foram melhorzinhas, essas aqui foram quase de primário; ah, então não sou do PT -sou como gente do PT. A diferença de preconceito é assim tão grande que eu quase fico surpreso.
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Não sei o que você imagina que seja o espírito de um petista, mas é exatamente a idéia de que haja o espírito de um petista e que seja a isso que você dê atenção em primeiro lugar ao invés de pensar no que foi dito que é o problema. Eu quis dizer: minhas idéias não derivam de partido algum. Considere as idéias, uma a uma, não as pessoas.
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Oh, então não sou um homem de verdade, Igor. Que coisa. Estou, assim, chocado.
Não é suficiente chamar você de misreader, bm. O Nagel foi muito sutil: Você é burro, mesmo, e de uma burrice vulgar.
Hum. Ah, sim, agora estou ofendido. Mas no que exatamente eu estou errado, meu caro?
HEHEHEHEHE pra tudo: post, comments, reação do b.m.
Bom, João, seu texto foi o assunto menos comentado por aqui. Então permita-me dizer que gostei muito dele. Você está de parabéns.
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